O cofundador da Wikipédia, Larry Sanger, faz um chamado para as pessoas do mundo inteiro declararem a sua "Independência Digital" e convocou uma greve geral contra as redes sociais para estas quinta e sexta-feira (4 e 5 de julho). Segundo ele, essa é uma forma de protesto ao que classifica como "violações sistemáticas" de privacidade, segurança da informação e liberdade de expressão dos usuários. A data coincide com o dia da Independência dos Estados Unidos. 

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Segundo o cofundador do Wikipédia, a greve é um protesto contra o modelo de negócios das empresas de redes sociais
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Segundo o cofundador do Wikipédia, a greve é um protesto contra o modelo de negócios das empresas de redes sociais


"Em 4 de julho de 1776, Thomas Jefferson alertou que a Inglaterra sistematicamente violava os direitos dos colonos e fez um chamado pela independência. Na Declaração de Independência Digital, eu alerto que nossos direitos à privacidade, à segurança das nossas informações e à liberdade de expressão sistematicamente violados por essas companhias gigantescas", disse Sanger ao anunciar a greve contra as redes sociais

A crítica não é exatamente às redes, mas ao modelo de negócio adotado por elas. De forma centralizada, empresas como Facebook, Google e Twitter, que montaram “silos” com dados coletados de bilhões de usuários. Assim, elas fazem uso do conteúdo dessas informações para oferecer serviços de publicidade mais eficientes. Dessa forma, as comunicações não podem ser criptografadas, o que tem impacto na segurança.

Sobre a liberdade de expressão, Sanger argumenta que essas empresas possuem bilhões de usuários em seus serviços e, por isso, têm poder para influenciar o debate público, minando as bases das democracias ocidentais. "Essas companhias gigantes criaram enormes bancos com informações dos usuários, algo extremamente valioso. E elas agem como se esses dados fossem delas, mas não são. Os dados são nossos", criticou. 

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Protocolo aberto e mídias com rede descentralizada

Filósofo por formação, Sanger se uniu a Jimmy Wales para fundar a Nupedia, em 2000, que um ano depois derivou a  Wikipédia . Com o tempo, Sanger se tornou crítico da enciclopédia digital e deixou o projeto em 2006, para fundar a Citizendium e, posteriormente, se juntar à Everipedia. Com currículo na comunidade de código aberto, ele propõe a mesma solução para as redes.

O problema, segundo ele, é que as redes sociais rodam em códigos proprietários, fazendo com que, na prática, elas se tornem donas das informações dos usuários. Por serem plataformas centralizadas, que cobram de terceiros pelo acesso a esses dados. Sua proposta é criar um protocolo aberto, descentralizando-as, como o dos e-mails ou da web, para que qualquer empresa tenha acesso às informações publicadas pelos internautas.

A ideia é que as pessoas não publiquem um texto no Twitter ou Facebook, mas neste protocolo, para que empresas como Twitter e Facebook, e outros concorrentes, façam uso do conteúdo.

Questionado sobre como as empresas poderiam monetizar seus negócios, Sanger argumentou que, pelo know how e pela experiência que entregam aos usuários, certamente as gigantes continuariam sendo os principais players nesse novo modelo.  

"Talvez não sejam tão lucrativas, mas isso não é um problema para mim", afirmou Sanger. "O problema que me afeta é que essas companhias se tornaram muito grandes, possuem muito poder, usando as minhas informações." 

Usando as redes sociais para alimentar o debate público

Sobre as consequências da greve , Sanger não acredita num grande impacto financeiro, mesmo que o protesto tenha grande adesão. O objetivo, afirmou, é alimentar o debate para que essas empresas sejam obrigadas a vir a público para se manifestarem sobre o tema.

Ele contou ter conversado com Jack Dorsey, diretor executivo do Twitter, que se mostrou simpático ao modelo descentralizado. "Eu ficaria surpreso se o Facebook fizesse algo nesse sentido, mas o Twitter, talvez", disse. 

Apesar da convocação da greve, o cofundador do Wikipédia tem consciência da dificuldade para abandonar as redes sociais. Por isso, pede que as pessoas, mesmo que acessem suas contas, façam uma declaração de apoio ao movimento e expressem suas críticas à forma como os dados pessoais são tratados pelas companhias, usando a hashtag #SocialMediaStrike.

"Eu ficarei muito feliz se muitos fizerem uma declaração sobre a greve. Eu acho que isso seria uma vitória enorme para a Humanidade. Pode ser que não aconteça, que não seja tão grande, mas vamos ver", finaliza. 

Nas redes sociais , alguns usuários estão fazendo relação entre o  bug nos apps do WhatsApp, Facebook e Instagram que aconteceu na quarta (3) com a greve geral, mas, por enquanto, essa relação não foi confirmada e acredita-se ter sido apenas uma coincidência. 

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