O assunto da semana no universo da tecnologia é a rede social Clubhouse
. Lançado em abril de 2020, o aplicativo de conversas por áudio ganhou muita fama nas últimas semanas depois que diversos famosos aderiram à plataforma.
De acordo com dados do provedor de dados App Annie, o Clubhouse já ultrapassa 3,4 milhões de downloads e, desses, 940 mil foram feitos na última semana de janeiro.
Na semana anterior a essa, dois milhões de pessoas aderiram ao aplicativo , de acordo com os próprios fundadores do Clubhouse. Isso significa que praticamente todo o sucesso da plataforma aconteceu de uma vez, em uma explosão global.
E não para por aí. Só entre os dias 1 e 9 de fevereiro, as buscas por Clubhouse no Google saltaram 4.900% em comparação com todo o mês de janeiro. Atualmente, a rede social já é avaliada em US$ 1 bilhão. “É a coisa mais emocionante de que já participamos”, disseram os fundadores Paul Davison e Rohan Seth.
Mas, afinal, por que o Clubhouse fez tanto sucesso de forma repentina? Testei o aplicativo e te conto abaixo todos os detalhes da rede social do momento.
Como entrar no Clubhouse?
Por enquanto, o Clubhouse não é acessível para muita gente. Isso porque o que está no ar é uma fase de testes da plataforma, que pode apresentar erros que devem ser corrigidos antes do aplicativo ser liberado para todos os internautas.
Em julho passado, os fundadores do Clubhouse escreveram que os dois eram os únicos funcionários em tempo integral da plataforma, e que eles ainda não tinham terminado “de construir os recursos que nos permitirão lidar com mais pessoas”.
Atualmente, o aplicativo está disponível apenas para usuários do sistema operacional iOS , utilizado em iPhones . Esse é o primeiro grande impeditivo para o uso da rede social, sobretudo em um país como o Brasil, onde mais de 90% dos smartphones são Android , de acordo com dados do próprio Google.
O segundo grande impeditivo é que, para conter o número de usuários e evitar possíveis bugs, uma nova conta na rede social só é liberada mediante um convite de outro usuário, assim como acontecia no falecido Orkut . Cada participante tem direito a convidar duas pessoas, e fica responsável por ela - se o convidado violar os termos de uso do Clubhouse, ambos são expulsos.
“Estamos construindo o Clubhouse para todos, e trabalhando para torná-lo disponível em todo o mundo o mais rápido possível. A intenção não é que ele seja exclusivo; apenas não estamos prontos para enviar a versão de lançamento geral ainda”, escreveram os fundadores.
Apesar deles dizerem que a intenção não é de que a rede social seja exclusiva, esse pode ser um grande atrativo que têm impulsionado o sucesso do Clubhouse. Com a restrição dos convites, cria-se essa sensação de exclusividade: quem está dentro, quer falar para todo mundo que está, e quem está fora quer fazer de tudo para entrar.
De tudo mesmo. Em sites de comércio eletrônico, já é possível encontrar convites para o Clubhouse sendo vendidos por mais de R$ 360 . Na prática, porém, não é necessário tanto esforço.
Se um usuário não tem convite, é possível fazer um pré-registro e esperar na fila. Outros participantes que já estão no Clubhouse serão notificados sobre as tentativas de entrada, e podem liberar o ingresso. Para entrar, fui convidada por uma conhecida, mas outros usuários relatam que apenas ficaram na fila de espera e em pouco tempo conseguiram ser liberados.
Consegui entrar no Clubhouse, o que vou encontrar?
Depois de vencer as barreiras para entrar no Clubhouse, a rede social te faz selecionar uma série de preferências para mostrar pessoas compatíveis que você pode seguir.
Logo no cadastro, é preciso preencher seus gostos pessoais nas seguintes categorias: Artes, Hustle, Lugares, Bem-Estar, Identidade, Entretenimento, Assuntos Mundiais, Vida, Esportes, Línguas, Fé, Conhecimento, Tecnologia e Saídas. Em cada uma delas, é possível selecionar uma série de palavras-chave que se relacionem com o seu gosto.
Depois de escolher, o aplicativo calcula uma lista de pessoas relacionadas com esses gostos para você seguir. Para aparecer mais conteúdos no meu feed, eu segui todas as contas recomendadas.
Depois disso, o aplicativo está pronto para uso. No feed principal, aparecem várias salas de conversa relacionadas com seu gosto ou criadas por pessoas que você segue. Mesmo selecionando a preferência para português, a grande maioria das discussões que surgiram para mim era em inglês, provavelmente pela maior quantidade de usuários de outros países.
Cada uma das salas tem um assunto sendo discutido. Assim, você pode ver qual te interessa e entrar. Na aba ao lado do feed, ficam as salas que têm data marcada, sendo possível adicionar eventos à sua agenda. Também dá para criar salas com seus amigos, familiares ou colegas de trabalho.
Há quem diga que o Clubhouse é como um podcast interativo , definição com a qual eu concordo bastante. Mas confesso que a primeira coisa que eu pensei quando entrei foi: reinventaram o telefone e estão fazendo sucesso com isso.
Se você ainda não entendeu o que é essa rede social, é tão simples quanto isso: cada sala é uma grande chamada telefônica na qual se discute determinado assunto. O moderador escolhe quem fala e as demais pessoas podem apenas entrar para ouvir. Tudo acontece em tempo real, com discussões ao vivo que não ficam salvas depois.
Outra característica bastante interessante de pontuar a respeito do Clubhouse é que, da forma como comunidade está constituída hoje, a rede social funciona muito mais de forma corporativa do que pessoal - em outras palavras, está muito mais próxima do LinkedIn do que do Instagram , Facebook ou Twitter .
No Clubhouse, é bastante comum encontrar salas sobre marketing digital, empreendedorismo, assuntos de importância política e econômica, e assim por diante. Não espere entrar lá e encontrar com uma facilidade uma sala discutindo sobre os participantes do Big Brother Brasil , por exemplo, já que assuntos que circulam em outras plataformas são mais raros neste aplicativo.
Por outro lado, nada impede que isso aconteça. Conforme mais pessoas de diversos países forem entrando na rede social, é bastante provável que novos assuntos surjam e o Clubhouse se torne mais plural.
“O mundo não é uma monocultura e queremos que o Clubhouse reflita isso. Idealmente, a experiência é mais como uma praça da cidade, onde pessoas com diferentes origens, religiões, afiliações políticas, orientações sexuais, gêneros, etnias e ideias sobre o mundo se reúnem para compartilhar suas opiniões, serem ouvidas e aprender. Algumas dessas comunidades se reúnem para debater. Alguns vêm para relaxar e brincar. Outros organizam festas para ouvir e conversar ao lado da lareira. Achamos que muitos estilos devem ser apoiados e estamos trabalhando em ferramentas para ajudar todos a criar seu próprio espaço, aprofundar amizades, conhecer novas pessoas e ter discussões significativas - da maneira que melhor lhes convier”, definem os fundadores do Clubhouse.
Nesse sentido, o Clubhouse remete um pouco ao Orkut , que tinha comunidades nas quais as pessoas discutiam assuntos em comum, mesmo que não fossem amigas. Sem fotos, textos ou vídeos, o Clubhouse deixa a autopromoção presente em outras plataformas de lado e passa a tentar conectar mais as pessoas.
O Clubhouse é seguro?
Se você vai entrar em uma nova rede social, seja ela o Clubhouse ou outra qualquer, é fortemente recomendado que você leia os termos de uso e a política de privacidade da plataforma. Isso ajuda a entender como seus dados são utilizados, o que o aplicativo fica sabendo sobre você e quais regras você não pode ferir.
Antes de acessar o Clubhouse, eu li esses dois documentos e não encontrei nada de muito diferente do que já é praticado por outras redes sociais . No aplicativo, os usuários não podem criar discussões ou fazer comentários preconceituosos de qualquer tipo, e essa é uma das principais regras.
Apesar disso, o Clubhouse já enfrentou polêmicas pela má moderação de conteúdo, quando deixou passar salas com conversas relacionadas ao anti-semitismo. Depois do episódio, os criadores prometeram criar novos mecanismos para evitar a propagação de discurso de ódio .
Atualmente, nenhum áudio das conversas ao vivo fica salvo pelo Clubhouse ou por qualquer usuário, a não ser que algum abuso desse tipo seja identificado. “Apenas com o propósito de apoiar investigações de incidentes, gravamos temporariamente o áudio em uma sala enquanto a sala está ao vivo. Se um usuário relatar uma violação de confiança e segurança enquanto a sala está ativa, retemos o áudio para fins de investigação do incidente e, em seguida, o excluímos quando a investigação for concluída. Se nenhum incidente for relatado em uma sala, excluímos a gravação de áudio temporária quando a sala termina. O áudio de alto-falantes sem som e membros da audiência nunca é capturado, e todas as gravações de áudio temporárias são criptografadas”, diz a política de privacidade do Clubhouse.
Apesar de não manter os áudios, o Clubhouse guarda, sim, muitos dados dos usuários. Assim como outras redes sociais, são coletados nome, foto, número de celular, e-mail, pessoas com as quais você se conecta, informações de navegação como cookies, IP do celular, localização, contatos da agenda e outros.
De acordo com a política de privacidade do Clubhouse, os dados podem ser compartilhados com “nossas afiliadas atuais e futuras” e com fornecedores e provedores de serviços “incluindo provedores de serviços de hospedagem, aplicativos de áudio e infraestrutura, serviços em nuvem e outros provedores de serviços de tecnologia da informação, serviços de gerenciamento de eventos, software de comunicação por e-mail e serviços de newsletter por e-mail, serviços de publicidade e marketing, processadores de pagamento, gerenciamento de relacionamento com o cliente e serviços de suporte ao cliente e serviços de análise da web”.
Para acessar a rede social , é preciso aceitar esses termos. Vale ressaltar que, mesmo no Brasil, os termos de uso e política de privacidade do Clubhouse só estão disponíveis, por enquanto, em inglês. De acordo com a Lei Geral de Proteção de Dados ( LGPD ), porém, o consentimento para a coleta e tratamento de dados deve ser feito com “transparência, de forma clara e inequívoca”.
Clubhouse: o veredicto final
Sem dúvida, grande parte do sucesso do Clubhouse se deve, sim, ao fato dele ainda não estar disponível para todos os usuários. Isso impulsiona um medo de se sentir de fora da novidade (conhecido como FOMO ), o que acaba garantindo que a rede social ganhe força.
Apesar disso, o Clubhouse é, sim, uma plataforma bastante interessante. Mesmo não tendo nenhuma grande inovação, já que as conversas por áudio
são tão antigas quanto o telefone, a ideia de conectar pessoas ao invés de forçar a autopromoção, como acontece em outras redes sociais, chama a atenção.
Por enquanto, o Clubhouse conta com discussões muito mais voltadas para o ambiente corporativo, mas é bastante possível que isso mude conforme novas pessoas cheguem por lá. Por isso, a manutenção do sucesso da plataforma ainda será definida por como a rede social se desenvolverá nos próximos meses.
Outra questão que ainda devemos ficar de olho é como o Clubhouse vai se financiar. Atualmente, o modelo de negócios do aplicativo ainda não é muito claro, e não aparece publicidade nele, por exemplo. A depender de como for definido, isso também deve influenciar se o Clubhouse veio, ou não, para ficar.