De um lado, celulares mais potentes e óculos de realidade virtual e aumentada leves e compactos. Do outro, o desenvolvimento de novas redes de inteligência artificial e a conexão de alta velocidade do 5G, que tem potencial para oferecer internet até cem vezes mais rápida que a do 4G atual. Essas condições estão favorecendo a aceleração dos investimentos de gigantes de tecnologia, teles e fabricantes de smartphones no chamado metaverso, ambiente virtual que promete ser a nova era da internet.
As empresas têm pressa. Previsão da Grayscale Investments aponta que o metaverso tem potencial para gerar negócios de US$ 1 trilhão por ano em diversos setores como varejo, entretenimento, esportes e aplicações industriais.
Pesos-pesados como Xiaomi, Motorola, Microsoft e até a ByteDance, dona do TikTok, já estão trabalhando em dezenas de modelos de óculos em parceria com a Qualcomm. Já são 50 protótipos que devem ser lançados nos próximos meses. No início do mês, algumas inovações foram apresentadas em evento do setor de telecomunicações nos EUA, o Snapdragon Tech Summit, no qual fabricantes e teles se reuniram para mostrar tendências e apresentar lançamentos.
O conceito de metaverso ganhou popularidade após o Facebook ter mudado seu nome para Meta, em outubro. Com o desenvolvimento do metaverso, as empresas vão oferecer aos clientes diferentes serviços imersivos, como compras on-line e games, além da prática de esportes e jogos ao vivo.
Google e Qualcomm anunciaram o desenvolvimento de uma nova rede de inteligência artificial. Segundo June Yang, vice-presidente do Google Cloud, essa nova infraestrutura vai permitir que dispositivos, como óculos e celulares, possam oferecer novas experiências digitais que hoje são inviáveis por causa do grande uso de memória, capacidade de processamento e energia.
"Assim, seremos capazes de construir e otimizar novos modelos de inteligência artificial de forma mais rápida, em semanas em vez de meses. Isso vai trazer grande impacto nas pessoas", disse Yang.
Ziad Asghard, vice-presidente de gerenciamento de produtos da Qualcomm, lembrou que computadores, celulares, óculos e casas inteligentes vão formar a cadeia do metaverso que será impulsionada pelo 5G, segundo ele.
"Quando você adiciona inteligência à rede, é possível desenvolver novas tecnologias de detecção de profundidade, rastreamento de mãos e olhos para capturar movimentos com mais realidade e dar novo impulso aos negócios", disse ele.
No seminário nos EUA, a americana Verizon e a Qualcomm fizeram uma transmissão ao vivo com qualidade de imagem em 8K em HDR, permitindo maior qualidade de imagem e mais contrastes de cores com som imersivo.
"Estamos construindo uma nova rede confiável para explorar conectividade e dar mais possibilidade aos clientes, gerando novos negócios", disse Kyle Molady, vice-presidente de Tecnologia da Verizon.
Alex Katauzian, vice-presidente sênior da Qualcomm, simulou com a rede 5G a compra de um tênis on-line no futuro e em tempo real. A imagem se altera conforme a pessoa se move e sem erro.
"Os avatares são criados na nuvem e exibidos em tempo real no celular usando a rede 5G. Isso é um processo complexo, entregando um processo de captura de imagem ao vivo . Os movimentos das pessoas serão capturados e traduzidos por filtros sem a ajuda de equipamentos especiais e horas de edição", disse Katauzian.
Teles participam de novo ecossistema
Além da Verizon, a T-Mobile também está mirando em serviços como experiências mais imersivas. A tele faz parte de um novo ecossistema, batizado pelas companhias de "Snapdragon Spaces", que já conta com outras operadoras como a alemã Deutsche Telekom e a japonesa NTT Docomo, além de 150 mil desenvolvedores de aplicativos.
No Brasil, a Claro aposta no desenvolvimento de novos serviços. Paulo César Teixeira, CEO da operadora, diz que há muitas oportunidades na indústria 4.0, agronegócio e entretenimento.
"Em realidade virtual e aumentada, o que se tem são oportunidades no entretenimento. E estamos trabalhando nisso, vendo locais específicos e aplicações. Já há experiências no mundo e os clientes estão gostando. A maturidade da tecnologia dá um ganho importante no processo de adoção dessas tecnologias. Há potencial enorme. Estamos trabalhando nesse segmento."
Segundo Cristiano Amon, CEO e presidente da Qualcomm, um dos principais pilares para permitir novos serviços será o uso das ondas milimétricas, leiloado recentemente pela Anatel e presente em diversos países da Europa, Ásia e Estados Unidos. Essa faixa de frequência, que no Brasil é em 26 GHz, vai permitir velocidades altas e latência baixa, estimulando aplicações em telemedicina e carros conectados que não podem ter erro de conexão na rede.
"Será inevitável usar as ondas milimétricas, que é até 19 vezes mais rápida que o 5G standalone. Essa frequência será usada agora nos jogos de inverno da China para promover novas experiências." (*O repórter viajou a convite da Qualcomm)