Desespero e confusão. Foram esses os sentimentos entre os funcionários do Twitter no Brasil na última sexta-feira (4), quando metade dos trabalhadores da empresa em todo o mundo foi demitida, após Elon Musk assumir a gestão da rede social.
Aqui no Brasil, essa porcentagem foi ainda maior, de acordo com fonte que preferiu não ser identificada. A reportagem entrou em contato com o Twitter para saber o número exato de brasileiros demitidos, mas não obteve resposta até o fechamento desta matéria. Globalmente, 50% dos trabalhadores foram cortados, de acordo com documento interno ao qual o portal iG teve acesso.
Até esta segunda-feira (7), muitos dos brasileiros demitidos não receberam informações precisas a respeito da rescisão dos contratos e do pagamento de possíveis multas, ao contrário do que Musk vem pregando publicamente. Em sua conta no Twitter, o bilionário disse que “todos os que saíram receberam 3 meses de indenização”, sem explicar se a regra é global ou apenas para trabalhadores dos Estados Unidos.
As demissões aconteceram de forma repentina e por email, o que os funcionários do Twitter classificam como um comportamento que vai na contramão da cultura da empresa. “Foi muito estranho porque essa nunca foi a cultura da empresa. As demissões não foram nada empáticas. O Twitter tem uma cultura muito única, todo mundo é muito parceiro. Dessa vez, não. Para começar, todos os emails foram inglês”, conta uma das trabalhadoras demitidas, que preferiu não se identificar.
Dois dias de aflição
A tensão nos grupos de WhatsApp de trabalhadores do Twitter começou ainda na quinta-feira (3), quando notícias da imprensa internacional começaram a apontar para o corte de pessoal. Neste momento, nem os líderes nacionais da empresa tinham informações precisas para orientar os funcionários.
No final da tarde, veio a oficialização do que a imprensa havia adiantado: todos foram avisados por email que, até às 13 horas do dia seguinte, saberiam se seus empregos estavam comprometidos ou a salvo.
“Aí já começou um certo desespero”, conta a funcionária. No final da noite, parte da equipe perdeu o acesso aos sistemas internos da empresa e aos canais de comunicação oficiais, levando os trabalhadores a crerem que essa seria a parcela de funcionários que seria cortada.
A essa altura, o boca a boca e as conversas de WhatsApp estavam a todo vapor, com os funcionários tentando adivinhar o que estava acontecendo. No início da manhã seguinte, a resposta chegou.
Uns ficam, outros vão
Parte da equipe recebeu um email informando que seu emprego estava mantido. A outra parte, porém, foi avisada que suas posições estavam comprometidas. Toda a comunicação foi feita em inglês e através de emails que pareciam automáticos, sem qualquer tratamento pessoal ou assinatura.
“Conforme compartilhado mais cedo hoje, o Twitter está realizando uma redução da força de trabalho para ajudar a melhorar a saúde da empresa. Essas decisões nunca são fáceis e é com pesar que escrevemos para informar que sua função no Twitter foi identificada como potencialmente impactada ou em risco de redundância”, diz o email enviado aos demitidos, ao qual o portal iG teve acesso.
No email, a empresa ainda afirma que os acessos foram cortados e diz que os próximos passos seriam informados a depender da localização em que a pessoa trabalha. Em nenhum momento, a demissão é citada com clareza, o que fez os funcionários especularem que essa tenha sido uma estratégia adotada para evitar possíveis processos trabalhistas. Até a manhã desta segunda, novas orientações ainda não tinham chegado, mas o acesso segue cortado, impedindo os funcionários de trabalharem.
O email recebido pela outra parte da equipe, porém, deixou claro que a mensagem das funções “potencialmente impactadas" significava demissão. Quem ficou recebeu uma mensagem clara, confirmando que o emprego estava mantido. “Obrigado por sua paciência durante esta transição e por seu compromisso com o importante trabalho que você faz no Twitter. Estamos enviando este email para confirmar que seu emprego não foi afetado pela redução da força de trabalho de hoje”, diz o email, ao qual o portal iG também teve acesso.
Quem ficou ainda recebeu, mais tarde na sexta-feira, um documento com perguntas e respostas sobre os cortes na empresa. Nele, o Twitter confirma que cerca de 50% dos funcionários foram cortados globalmente, e que a proporção em cada escritório regional é variada.
O documento ainda afirma que o processo demissional varia de país para país, e que funcionários de fora dos Estados Unidos “estão sendo tratados de acordo com as normas locais e regionais”.
A reportagem procurou o Twitter para saber quantos funcionários foram demitidos no Brasil e como serão feitos os desligamentos. A empresa não respondeu até o fechamento desta matéria.