Para sobreviver e se manter no topo do mercado de streaming, a Netflix pode ser obrigada a fazer mais combos com outras empresas. As parceiras e acordos entre streamings são estratégias que, na avaliação de Horace Dediu, analista da consultoria Asymco, levaram a Apple TV+ o Disney+ a ganharem assinantes, algo que o estúdio do "Tudum" poderia considerar para reverter a primeira perda de clientes em 10 anos
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A Netflix anunciou na semana passada que perdeu 200 mil assinantes no 1º trimestre de 2022, assustando investidores. A debandada de usuários levou as ações da companhia na bolsa a despencarem 40% em dois dias. Em comparação com 2021, a queda representa uma diminuição de 60% no valor de mercado da produtora.
Segundo Horace Dediu, a Netflix sempre foi uma das "queridinhas" do mercado por apresentar um crescimento acima da média em usuários. Mas o analista acredita que a produtora nunca foi um "bom negócio".
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O streaming criou um modelo de assinatura para usuários maratonarem séries e filmes, como parte de um serviço. Porém, isso dependia da quantidade de conteúdo disponível, o que levou a Netflix a se tornar um canal para distribuidores e produtoras de cinema.
Ao longo do tempo, a empresa foi abocanhando a margem de lucro desses distribuidores a cada novo lançamento, levando muitos a deixarem o serviço. A solução da Netflix foi produzir conteúdo original. Mas Dediu argumenta que esse modelo de negócio se tornou arriscado: um retorno em receita depende da produção de cada vez mais filmes e séries de diferentes gêneros.
"Alguns [filmes e séries] serão hits, mas outros não. Portanto, é necessário fazer muitos. O que leva a uma demanda mais diversificada. As pessoas querem ver todo o tipo de gênero. Você então precisa filmar de tudo. Não dá para divulgar todo o catálogo como um evento porque tem muito conteúdo. Isso parece um jogo de acerto e erro com um grande risco", analisa o especialista.
A produção desenfreada levou a Netflix a aumentar os preços, na análise de Dediu, enquanto a concorrência se aproveitou de nichos: a Apple TV+ focou em qualidade e o Disney+ trouxe um catálogo mais amigável para famílias. Mais e mais opções de assinaturas começaram a pesar no bolso — no Brasil, assinar a maioria dos streamings chega a R$ 300 por mês .
Netflix pode tirar benefícios de combos, cita analista
Dediu aponta que o acesso a filmes e séries virou uma exigência que faz parte de um combo, como um plano de internet. "Pelo menos, essa é a abordagem da Apple. Eles não veem o conteúdo como um negócio, mas sim como algo parecido com um artigo de higiene: essencial para o pacote", diz o analista.
Vale lembrar que a Apple TV+ faz parte do Apple One; o Amazon Prime Video é um recurso do Amazon Prime; o HBO Max está embutido para clientes nível 6 do Mercado Livre e do Rappi Prime; e o Disney+ tem combos com o Globoplay e com o Star+.
O analista pondera, portanto, que a Netflix pode fracassar por investir em apenas um ramo: o streaming. "A Netflix sempre me pareceu uma ideia passageira. Sim, as pessoas gostam de filmes do mesmo jeito que gostam de músicas, livros e revistas. E a produção e distribuição de conteúdo passaram por transformações drásticas, graças à computação e à internet. Um negócio que apenas produz e distribui um único tipo de mídia pode ser considerado ok. Mas ele deve ficar no mesmo nível de plataformas com bilhões de usuários?", questiona Dediu.
A Netflix parece sentir a preocupação do analista. Para diversificar sua receita, a produtora entrou no mercado de games com jogos para celular como parte de sua assinatura, e cogita lançar um plano mais barato, mas com anúncios.