Já pensou ver o seu rosto em um vídeo totalmente aleatório? Ou ouvir sua própria voz dizendo coisas que jamais diria? Bom, isso é possível com uma tecnologia chama deepfake, que permite essa manipulação, principalmente em vídeos, de uma forma bastante convincente. Veja abaixo mais detalhes do que é um deepfake e por que é preciso se preocupar com essa técnica.
Deepfake usa Inteligência Artificial para trocar o rosto de pessoas em vídeos, sincronizar movimentos labiais, expressões e demais detalhes, em alguns casos com resultados impressionantes e bem convincentes.
Essa onda de trocar rostos de pessoas em vídeos não é nova. Mas, em dezembro de 2017, um usuário do Reddit, chamado deepfakes, deu um passo além. Com ferramentas de Inteligência Artificial e Aprendizado de Máquina de código aberto, como Keras e TensorFlow (este último, do Google), ele criou um algoritmo para treinar uma Rede Neural a mapear o rosto de uma pessoa no corpo de outra, frame por frame.
Ao invés de depender de edição manual como antigamente, o usuário, através da ferramenta (que recebeu o nome de Deepfake), precisa apenas de uma fonte para reconhecer o modelo do rosto da "vítima", mapear a estrutura da cabeça destino e fazer a sobreposição. O software consegue ajustar a movimentação do vídeo original ao novo rosto e isso inclui expressões faciais e movimentos labiais.
No início, o Deepfake exigia conhecimentos avançados por parte do usuário, mas quando outros criaram aplicativos e sistemas capazes de automatizar todo o processo, a ferramenta foi massivamente usada para o mal: logo começaram a surgir dezenas de vídeos adultos editados com o software, com o rosto de atrizes e artistas.
A "brincadeira" do Deepfake não se limitou a vídeos adultos, no entanto: há uma série de criações que colocam rostos de celebridades em filmes nos quais não estiveram presentes. Entretanto, as possibilidades de uso do software são inúmeras e necessário dizer, nocivas. Até Mark Zuckerberg foi alvo de um vídeo falso.
Alguns exemplos de ferramentas de deepfake com fácil acesso são: o aplicativo Reface; os sites DeepSwap e DeepFakes Web; e os programas FaceApp e DeepFaceLab.
Importante destacar que deepfake é diferente de shallowfake. Na verdade, a premissa é a mesma, mas a diferença está na qualidade. No shallowfake a qualidade da manipulação é inferior, facilitando a identificação.
Por mais que o foco do deepfake seja a troca de rosto em vídeos, engana-se quem pensa que a prática se restringe a isso. A técnica também é utilizada para a manipulação de áudios, onde podem ser criadas gravações que simulam a voz de determinada pessoa, tipo de deepfake facilmente compartilhável em mensageiros como o WahtsApp.
Além disso, já podemos nos deparar com os deepfakes textuais, com máquinas de escrita gerada por inteligência artificial; deepfakes nas redes sociais, para a criação de perfis falsos na internet; e os deepfakes em tempo real, em que é possível mudar o rosto em transmissões ao vivo, técnica permitida pelo software DeepFaceLive, por exemplo.
Potenciais riscos dos deepfakes
Ainda que o alvo principal da comunidade em torno da ferramenta sejam pessoas públicas, nada impede que alguém realmente mal-intencionado pegue um vídeo de uma pessoa comum e o coloque em uma situação constrangedora.
Não pense apenas em vídeos de porn revenge editados: é possível, por exemplo, forjar um momento de descontração entre amigos para criar um álibi, um depoimento para convencer outros de que você defende um determinado ponto de vista ou mesmo uma situação de crime, de modo a incriminá-lo. Tudo depende da criatividade do editor e de quantos vídeos seus estão disponíveis facilmente na internet.
Como a qualidade média dos vídeos não é muito alta, dadas as exigências de hardware (é preciso no mínimo uma GeForce GTX 1050 para resultados aceitáveis), tais criações chegam a ser bem convincentes a um desavisado, que pensará se tratar de um vídeo real, ainda que eles possuam uma falha.
Deepfake e eleições
A técnica também é utilizada na política. Nas Eleições de 2022, inclusive, já foi identificada a primeira deepfake com a apresentadora do Jornal Nacional Renata Vasconcellos. O vídeo, que apresenta uma edição bem feita, utiliza a voz da jornalista para mostrar dados de uma falsa pesquisa de intenção de votos.
Como já citado acima, esses conteúdos acabam chegando a pessoas que não conseguem identificar, imediatamente, essas montagens, aumentando o compartilhamento de fake news e a desinformação.
Dicas para identificar um deepfake
Ao receber um vídeo duvidoso, pare e assista-o diversas vezes, em todas as velocidades, para ficar mais fácil identificar falhas.
Outro passo importante é se atentar ao rosto da pessoa no vídeo. Verifique a pele, os olhos, as sobrancelhas e a boca, por exemplo. Nessas observações, é possível identificar alguma falha, seja um piscar de olhos mais lento ou uma pele muito lisa, ou enrugada.
Por último, pesquise informações sobre o conteúdo recebido (seja ele vídeo, áudio, ou texto), é possível que você se depare com alguma notícia sobre o assunto na internet. Além disso, tente encontrar outra versão da publicação para conseguir comparar as falas e gestos.
Resumindo, atenção máxima a todos os detalhes.
Quais atitudes tomar?
Para que os seus conteúdos não sejam usados em um deepfake, o mais sensato a fazer é evitar o compartilhamento de vídeos pessoais com quem você não conhece ou não hospedá-los em redes sociais de forma pública para dificultar o trabalho do editor.
No geral, a sociedade ainda está se ajustando ao deepfake por se tratar de uma tecnologia nova e, se mal utilizada, extremamente prejudicial. É esperado que novos mecanismos jurídicos sejam aprovados de modo a combater a prática e proteger as pessoas. Portanto, caso você tenha sido vítima, colete todas as informações necessárias e procure um advogado ou a Defensoria Pública assim que possível.
No caso de vídeos e áudios recebidos, evite o compartilhamento sem antes seguir as dicas para identificar um deepfake. É extremamente importante essa atitude para evitar a propagação de informação falsa e conteúdo impróprio.
É ilegal criar deepfake?
Na verdade, as tecnologias de inteligência artificial e deep learning não são um problema, já que podem ser utilizadas para a criação de vídeos inofensivos. No entanto, a palavra deepfake é geralmente associada a situações ruins, ou seja, que oferecem risco às pessoas, grupos sociais e até mesmo à democracia.
*Com informações: SpiceWorks e Mit Media Lab.