Nos últimos anos vimos as fake news se tornarem uma ferramenta poderosíssima, com grupos usando as redes sociais para amplificar discursos e influenciar até mesmo os rumos de grandes nações. Portanto não é de se estranhar que a desinformação , para usar o termo em português, tenha se tornado o mais novo produto à venda na Deep Web , à disposição de indivíduos, empresas e grupos políticos dispostos a pagar o preço certo .
Pesquisadores do Insikt Group , braço de pesquisa de ameaças da empresa norte-americana Recorded Future , conduziram um experimento para verificar o custo e a facilidade de implantação de uma campanha de desinformação . Para isso, contataram fontes na Deep Web que ofereciam seus serviços em fóruns de discussão russos.
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A idéia foi criar uma empresa fictícia chamada Tyrell Corp (uma referência a Blade Runner) e estabelecer duas campanhas. Uma com conteúdo positivo sobre a empresa, conduzida por outro grupo identificado como Raskolnikov (uma referência à novela Crime e Castigo, de Dostoiévski), e outra com conteúdo negativo , que seria conduzida por um fornecedor apelidado de Doutor Jivago (uma referência ao livro de Boris Pasternak).
Segundo os pesquisadores, o processo foi “assustadoramente simples” e em ambos os casos levou menos de um mês . Ambos os fornecedores foram extremamente profissionais , respondendo a questões, sugerindo estratégias para maximizar o impacto das ações e modificando o conteúdo produzido de acordo com as necessidades do cliente.
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O escopo do trabalho é altamente customizável , de forma que o custo da campanha pode ser facilmente adaptado aos recursos disponíveis, indo de US$ 15 por um artigo com 1.000 caracteres a US$ 1.500 mensais por serviços de SEO para promoção de conteúdo.
Os resultados não demoraram a aparecer . Segundo o Insikt Group, duas semanas após começar a trabalhar com Rasklonikov a Tyrell Corporation estava “na mídia”, com dois artigos publicados na imprensa: um em um veículo de pequeno porte e outro em um “veículo de boa reputação, que publica um jornal há mais de um século”.
O mais impressionante, para os pesquisadores, foi a capacidade dos fornecedores de criar e manter milhares de contas usadas para replicar o conteúdo em redes sociais , sem levantar suspeitas de sistemas de moderação.
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A estratégia social do Doutor Jivago era usar contas mais antigas , ativas nas redes sociais há mais tempo, como “sementes” para iniciar a disseminação da informação, dando a ela mais credibilidade. Então perfis falsos criados mais recentemente começariam a seguir e compartilhar informações destas contas, ao mesmo tempo em que tentavam estabelecer amizade com usuários reais na região ou perfil demográfico da campanha. A idéia era fazer com que eles começassem a espalhar a informação de forma orgânica .
No total, o Insikt Group gastou cerca de US$ 6.000 (cerca de R$ 25.000) em ambas as campanhas, com US$ 1.850 sendo usados gastos com Raskolnikov para construir a reputação da Tyrell e US$ 4.200 com Doutor Jivago para destruí-la. Dinheiro que, segundo os pesquisadores, é uma “ mixaria ” para uma empresa ou grupo político .
Ao final, os pesquisadores concluem: “se a facilidade que encontramos em nosso experimento servir de indicação, acreditamos que a desinformação como serviço em breve irá se espalhar, deixando de ser uma ferramenta usada por nações para uma cada vez mais usada por indivíduos e organizações”.