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Usuários poderão pagar para utilizar bicicletas e guarda-chuvas compartilhados em São Paulo
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Usuários poderão pagar para utilizar bicicletas e guarda-chuvas compartilhados em São Paulo


Primeiro veio o compartilhamento de carros com aplicativos como o Uber. Depois, as pessoas passaram a poder compartilhar suas próprias casas através do Airbnb. Agora, duas startups que chegam ao Brasil querem dar um próximo passo e popularizar o compartilhamento de bicicletas e guarda-chuvas. Começando por São Paulo.

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O compartilhamento realmente parece ser a ordem do dia no empreendedorismo. Empresas estão faturando milhões através de uma nova lógica que torna produtos e serviços mais acessíveis. Sem ser mais necessário "possuir" algo como um carro ou uma casa para poder "utilizar", os empresários perceberam que poderiam atingir um novo mercado consumidor. Trata-se de uma parcela da população que, pagando menos, mas em larga escala, está mudando o ecossistema das startups mundo afora.

Tudo isso só é possível, claro, por conta da tecnologia. Afinal, os smartphones e a conexão com a internet são as chaves que permitem aos usuários acessarem todo esse universo de possibilidades.

Inicialmente, porém, os empreendedores estavam atacando filões de produtos mais caros. Assim eles tinham o retorno mais rápido dos investimentos e logo estavam prontos para expandir o negócio. Agora, porém, com os exemplos de sucesso, eles ganharam confiança para apostar em compartilhamento de produtos bem mais baratos como bicicletas e, até mesmo, guarda-chuvas.  

Bicicletas amarelas

Fundadores da 99 Táxis, um aplicativo que rivaliza com o Uber no Brasil e acabou de ser vendido à chinesa Didi Chuxing por quase R$ 1 bilhão, Ariel Lambrecht e Renato Freitas sabiam de tudo isso e resolveram mudaram de ramo, mas nem tanto, para começar uma nova empreitada. Eles se juntaram a Eduardo Musa, ex-CEO da Caloi, para fundar a Yellow: uma startup 100% brasileira que pretende oferecer bicicletas compartilhadas.

Bikes amarelas poderão ser vistas circulando, em breve, pelo centro expandido de São Paulo.
Divulgação/Yellow
Bikes amarelas poderão ser vistas circulando, em breve, pelo centro expandido de São Paulo.


Unindo a experiência que os sócios já tinham com aplicativos de transporte e com a criação de bicicletas,  a Yellow conseguiu captar, de partida, R$ 9 milhões para impulsionar seu modelo de negócio. Os empresários pretendem criar uma frota inicial de 20 mil bicicletas que serão disponibilizadas, a princípio, no centro expandido da cidade de São Paulo mediante um aluguel pago direto pelo aplicativo da empresa.

Diferente de projetos já existentes em diversas cidades brasileiras como o Bike Sampa, as bicicletas da Yellow não terão estações fixas de retirada e entrega. Como cada unidade será equipada com GPS, os usuários poderão encontrar a bicicleta mais próxima disponível, desbloqueá-la através do seu próprio smartphone e bloqueá-la novamente depois de utilizá-la, deixando a unidade "em qualquer lugar". A partir daí, o aplicativo se encarregará de colocá-la disponível novamente para o próximo usuário.

Esse novo modelo de compartilhamento chamado "dockless" (sem estação) é inédito no Brasil, mas não no mundo. Empresas semelhantes já encamparam iniciativas como essa em diversas cidades europeias e na China. Por lá, porém, o grande número de unidades disponíveis chegou a causar transtornos, já que as bicicletas se acumulavam em determinados pontos, travando calçadas e dificultando o tráfego.

Os sócios admitem que esse é um dos principais desafios da empresa, já que o Brasil não é lá muito conhecido por ter calçadas espaçosas e planas. Para driblar esse problema, eles apostam na estratégia de gamificação para premiar usuários que deixarem suas bikes em locais predefenidos pela companhia como praças e boulevards, onde há espaço suficente para não atrapalhar os pedestres.

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Outro problema antecipado pelos sócios diz respeito a roubos e vandalismos. No ano passado, a chinesa Wukong Bikes foi obrigada a declarar falência após mais de 90% de suas bicicletas acabarem furtadas. Para não passar por isso, os sócios brasileiros apostam em três estratégias diferentes da concorrente chinesa mal sucedida.

Em primeiro lugar, as bicicletas da Yellow serão equipas com GPS e o aplicativo exigirá um cadastramento dos dados bancários dos usuários de modo que qualquer avaria ou furto será cobrado dos usuários correspondentes.

Além disso, os sócios acreditam que o grande número de bicicletas circulando nas ruas diminuirá o interesse em furtá-las. Como parâmetro de comparação, a empresa chinesa disponibilizava apenas 1200 unidades, a Bike Sampa conta com 2600 veículos e a Yellow pretende colocar 20 mil bicicletas para rodar desde o primeiro dia, mas entende que há potencial para até 100 mil bikes apenas na capital paulista.

Por último e mais importante, as bicicletas foram desenvolvidas com características especias que as tornam de baixo valor agregado. Além de contar com quadros de aço e pneus maciços que não furam para resistir ao uso intenso, elas não serão equipas com marchas, nem câmaras de ar, enquanto o selim virá com travas que dificultam a sua remoção.

Apesar de não terem definido quanto tudo isso custará para os usuários, os sócios já adiantaram que a intenção é cobrar mais barato do que o valor do transporte público da capital (R$ 4,00), uma vez que a proposta é que as bicicletas funcionem como um modal de transporte complementar, de pequenas distâncias. Haverá, porém, uma tarifa dinâmica para regular a demanda e a oferta em momentos/lugares de pico, a exemplo do que já acontece com o Uber.

Aguardando por uma aprovação na prefeitura de São Paulo, a empresa avalia que não demorará muito para entrar em operação já que a gestão do prefeito João Doria (PSDB) liberou o cadastramento de empresas que oferecem serviços de transporte  sem licitação, nem exclusividade sendo obrigadas apenas a compartilharem informações de deslocamentos com o poder público e aceitarem o pagamento com Bilhete Único. Se tudo der certo em SP, a previsão é que o serviço seja expandido para outras 30 cidades brasileiras logo em seguida.

Guarda-chuvas rochos

Outra startup brasileira que aposta no compartilhamento, mas já está em operação em São Paulo é a Rentbrella. Como o próprio nome diz, a empresa pretende oferecer o aluguel ( rent , em inglês) de guarda-chuvas ( umbrella , em inglês).

30 mil guarda-chuvas roxos da Rentbrella já estão disponíveis para uso na região da Avenida Paulista em São Paulo
Divulgação/Rentbrella
30 mil guarda-chuvas roxos da Rentbrella já estão disponíveis para uso na região da Avenida Paulista em São Paulo

Os sócios e cofundadores Freddy Marcos e Nathan Janovich tinham passado por outras empresas de tecnologia antes, mas resolvem se juntar e apostar no projeto da RentBrella. A ideia simples e ambiciosa era oferecer 30 mil guarda-chuvas para aluguel. Para cumprir a meta, a empresa precisou fabricar as unidades e as 50 estações de entrega/retirada que foram espalhadas em estabelecimentos comerciais e estações de metrô ao longo da Avenida Paulista, região central de São Paulo.

Diferente da Yellow, portanto, as unidades da RentBrella precisam ser retiradas e entregues em locais específicos predefinidos. Os usuários usam o aplicativo da startup apenas para localizar a estação mais próxima, desbloquear o guarda-chuva correspondente e fazer o pagamento de R$ 1 para cada hora de uso.

As estações, porém, funcionam apenas das 10h às 18h, de segunda a sexta-feira. Desse modo, as pessoas também podem ficar com o guarda-chuva no fim do dia e devolvê-lo no dia seguinte, sem custo de pernoite. Entretanto, após 16 horas cobradas de uso, o aplicativo cobra automaticamente uma multa de extravio de R$ 34 e o usuário não precisa mais devolver a unidade.

A "primeira empresa de compartilhamento de guarda-chivas da América Latina" usou isso como recurso para evitar furtos e roubos, a exemplo do que se tornou muito comum, também, na China. Lá uma startup semelhante chamada E Umbrella perdeu quase 300 mil guarda-chuvas que colocou para compartilhamento em apenas três meses após o lançamento do serviço. Eles, porém, cobravam 19 yuans na retirada (cerca de R$ 10) e meio yuan (R$ 0,26) a cada 30 minutos de aluguel, mas não cobravam nada pelo extravio.

Ainda assim, a empresa chinesa pretende expandir suas operações e colocar mais 30 milhões de guarda-chuvas disponíveis para compartilhamento na China até o final deste ano. A startup que já opera em pelo menos 11 cidades chinesas recebeu um aporte inicial de aproximadamente R$ 4,8 milhões e, aparentemente, ainda tem grana para gastar.

Mais humilde, mas também com planos de expansão, a RentBrella tem como meta chegar a  350 mil guarda-chuvas disponíveis em 700 estações espalhadas por toda capital paulista até o final do ano. Para viabilizar os custos, a startup brasileira não descarta a possibilidade de vender espaço para mensagens publicitárias nos guarda-chuvas, a exemplo do que já é comum de ver nos guarda-sóis nas praias brasileiras.

Agora resta saber se os planos de ambas as startups vão se concretizar e se essa segunda onda de compartilhamentos vai mesmo durar no Brasil. Além dos riscos já descritos, há quem diga que a sazonalidade, ou seja, a troca entre épocas de chuvas e secas pode dificultar que ambos os negócios decolem, afinal de contas, não é difícil de imaginar uma queda no número de aluguéis de bicicletas em dias de chuva e no número de aluguéis de guarda-chuvas em dias de sol.

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Nada disso, porém, parece esmorecer as expectativas dos empresários e investidores que escolheram a imprevisilidade climática da capital paulista para dar o pontapé inicial em duas das mais novas startups brasileiras.

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