No final de novembro, o prêmio GOL Novos Tempos teve como principal homenageada a arquiteta e urbanista Priscila Gama , por sua contribuição para a segurança na mobilidade urbana com o aplicativo Malalai ( Android e iOS ).
Essa não é a primeira vez que Priscila é premiada por seu app , e provavelmente não será a última. “A coisa tomou uma proporção que nem se eu quisesse eu conseguiria largar tudo hoje”, brinca a mineira, se lembrando de quando teve a primeira ideia sobre a Malalai, no final de 2015.
Malalai , que significa “atingida pela dor” e homenageia Malalai de Maiwand e Malala Yousafzai, é um aplicativo de mobilidade urbana que permite que os usuários - sobretudo mulheres - compartilhem suas rotas e enviem sinais de emergência para contatos próximos, a fim de gerar mais segurança. “Minha ideia era só oferecer companhia virtual para as mulheres”, conta Priscila.
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A ideia surgiu depois que Priscila presenciou uma mulher sendo seguida de madrugada em uma rua próxima à sua casa, em Belo Horizonte, MG.
Na mesmo época, o coletivo Think Olga lançou a hashtag #PrimeiroAssédio , na qual mulheres eram convidadas a compartilharem situações de assédio nas redes sociais. Lendo muito relatos relacionados à mobilidade, a arquiteta teve certeza de que era hora de criar algo que mudasse a situação.
Com apenas uma ideia em mente, Priscila se inscreveu em um concurso de startups , sem sequer sonhar que chegaria onde está hoje. “Nesse evento, normalmente, a galera ou é de business, ou é de tecnologia, ou é de design, eu não era de nenhum dos três”, brinca.
Foi nesse concurso que ela conheceu seu atual sócio, Henrique Mendes, e a ideia foi, aos poucos, entre altos e baixos, saindo do papel.
“O Henrique levou um ano para aprender a fazer aplicativo para fazer o nosso”, lembra a arquiteta, rindo. “Então, tirar o negócio do papel incluiu aprender a desenvolver aplicativo”.
Como funciona a Malalai
O objetivo da tecnologia Malalai é oferecer mais segurança para pessoas que querem ser livres para se deslocarem sozinhas . Através do aplicativo, os usuários podem adicionar até três pessoas de confiança, que são chamados de keepers .
Uma delas (que também precisa ter o app instalado) pode acompanhar as rotas que o usuário quiser compartilhar, enquanto as outras duas recebem apenas avisos de emergência.
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Toda vez que for iniciar um trajeto, o usuário pode pedir para que o keeper principal o acompanhe, e ele receberá o mapa com a rota em tempo real em seu celular.
Também dá para configurar um tempo após o fim da rota para enviar uma mensagem de emergência ao keeper principal. Caso se passe o tempo esperado para a conclusão do caminho e você ainda não tiver concluído, quem está acompanhando sua rota receberá um aviso de emergência.
Além disso, o aplicativo possui um botão vermelho (que pode ser adicionado como atalho na tela principal do smartphone). Com apenas um clique nele, é possível avisar os três keepers que você se encontra em uma situação de emergência.
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Mapa da segurança
Outro aspecto bastante interessante do aplicativo é que ele funciona como um mapeamento coletivo . Todos os usuários do aplicativo podem visualizar e adicionar aos mapas das cidades avisos como “rua movimentada”, “assédio recorrente” e “má iluminação”.
Priscila conta que um dos maiores objetivos da empresa hoje é conseguir melhorar esse mapeamento, incluindo informações que não dependam dos usuários e adicionando a possibilidade de pessoas incluírem dados diretamente na web , sem precisarem baixar o aplicativo.
Para encontrar boas soluções a esse desafio, eles planejam um hackathon no início de 2020. “O grande desafio é conseguir mostrar onde há movimento nas ruas e onde não há em tempo real”, conta.
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Mais do que um aplicativo
Outra novidade bastante interessante que Malalai traz é que a empresa não se trata apenas de um aplicativo .
Priscila, Henrique e sua equipe já desenvolvem jóias inteligentes , capazes de enviarem alertas discretos para celulares cadastrados.
A principal delas é o anel, que está em produção e já tem cerca de 50 pessoas na fila de espera - é possível encomendá-lo pelo site da Malalai .
Conectado ao celular via Bluetooth , o anel consegue enviar mensagens de emergência para contatos cadastrados com apenas uma pressão sobre ele.
A expectativa é que a peça esteja disponível para venda no meio do ano que vem. Priscila conta que a equipe já pensa em outras opções também, como colares e chaveiros, que devem ter custos menores.