Nesta semana, uma decisão tomada pela Apple
gerou polêmica
no mundo todo. Durante o lançamento da nova linha iPhone 12
, a empresa anunciou que seus dispositivos virão sem carregadores e fones de ouvido
na caixa, em uma tentativa de “reduzir as emissões de carbono e evitar a mineração e o uso de materiais preciosos”.
Ao anunciar a decisão, a Apple
disse que espera que outras empresas façam o mesmo. Além de evitar os danos ao meio ambiente
durante a produção dos acessórios para iPhone, a medida também reduz a quantidade de dispositivos eletrônicos circulando no mercado, o que levanta uma discussão a respeito do lixo eletrônico
.
Lisa Jackson, vice-presidente de Meio Ambiente, Política e Iniciativas Sociais da Apple, afirmou que existem mais de 700 milhões de fones de ouvido com fio e mais de dois bilhões de adaptadores da marca circulando no mundo todo. Ao retirar os acessórios da caixa dos iPhones, a Apple quer parar de injetar no mercado dispositivos eletrônicos sem necessidade.
O tamanho do problema
Para Raul Colcher, engenheiro de comunicações e membro do Instituto de Engenheiros Eletrônicos e Eletricistas (IEEE), atitudes como a tomada pela Apple são, sim, eficazes, mas o problema é muito maior. “Isso é uma coisa muito pequena frente ao tamanho do problema que a gente está vivendo em termos de descartes de equipamentos e componentes eletrônicos”, opina.
E o problema é mesmo grande. De acordo com um relatório da Associação Internacional de Resíduos Sólidos, divulgado em julho deste ano, o mundo bateu recorde de produção de lixo eletrônico em 2019. A marca alcançada foi de 53,6 milhões de toneladas, ou mais de sete quilos por habitante do planeta.
O relatória ainda aponta que, se recuperados, componentes como ouro encontrados nesse montante de lixo poderiam gerar cerca de US$ 57 bilhões. Aqui no Brasil, o problema também é enorme. O país é o líder de produção de lixo eletrônico na América Latina, e o sétimo maior produtor do mundo, de acordo com relatório da Plataforma para Aceleração da Economia Circular (Pace) e da Coalizão das Nações Unidas sobre Lixo Eletrônico.
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O problema é de quem?
Governos, ONGs e a própria indústria já tomam atitudes para minimizar o grande problema do lixo eletrônico mundial. Raul explica que, se descartado incorretamente, os componentes eletrônicos podem causar grandes prejuízos ambientais. “Se você destruir de uma forma arbitrária, você pode causar a liberação de alguns componentes e metais pesados, e corre o risco de causar resíduos prejudiciais”, afirma.
Aqui no Brasil, um decreto assinado pelo presidente Jair Bolsonaro em janeiro deste ano obriga empresas do setor de eletroeletrônicos a implantarem sistemas de coleta de resíduos eletrônicos para dar a destinação correta. Raul explica que essa destruição passa por processos especializados, que necessitam de maquinário próprio.
Além da indústria, que é obrigada a recolher e descartar lixo eletrônico, muitas ONGs também atuam no setor no Brasil. Algumas delas destinam os aparelhos que ainda funcionam, como celulares e computadores antigos, a quem precisa, enquanto outras trabalham com o descarte especializado.
Para além de governo, indústria e terceiro setor, Raul diz que é preciso que a população se conscientize de que é necessário um descarte correto, sem jogar equipamentos eletrônicos no lixo comum. “E a indústria precisa afinar seus canais de comunicação para ajudar nesta tarefa”, comenta.
Qual é a maneira certa de descartar lixo eletrônico?
Existe uma variedade enorme de lixo considerado eletrônico. Desde pilhas e baterias até geladeiras e microondas, passando por celulares e computadores: tudo isso precisa de um descarte correto para não afetar o meio ambiente .
Por isso, a melhor solução na hora de jogar fora um equipamento eletrônico que você não usa mais é consultar a própria fabricante. “A gente não pode achar que a gente sabe fazer a destruição”, alerta Raul.
Algumas fabricantes mantêm urnas de coleta de eletrônicos em suas assistências técnicas, enquanto outras possuem canais de comunicação com os clientes para realizar a logística reversa. Outra opção é encontrar ONGs locais ou serviços de coleta disponibilizados por governos para dar o destino correto ao seu lixo eletrônico .