Elon Musk compra Twitter
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Elon Musk compra Twitter

Os acionistas do Twitter aceitaram a oferta de Elon Musk , o homem mais rico do mundo, e, caso o negócio seja confirmado pelos reguladores americanos, a rede social terá um novo dono. Um só.

A empresa deixará de ter ações negociadas em Bolsa e terá o capital fechado pelo bilionário, que pagará US$ 44 bilhões (quase R$ 215 bilhões) por todos os papéis. Na avaliação de especialistas, o negócio fará Musk assumir um papel de destaque nos debates sobre liberdade de expressão, devido às recentes políticas de moderação do Twitter das quais ele já disse discordar.

Também deve aumentar a pressão por maior regulação das mídias sociais para combater notícias falsas e discursos de ódio, como defende o presidente dos EUA, Joe Biden. O fundador da montadora de carros elétricos Tesla e da companhia aeroespacial SpaceX torna-se agora um magnata das redes sociais, como o líder do Facebook, Mark Zuckerberg.

Em comunicado após o anúncio do acordo com acionistas, Musk defendeu a "liberdade de expressão", prometeu combater robôs e cogitou autenticar (ou seja, dar o selo azul) todos os usuários.

Ele também disse querer abrir o código do algoritmo do Twitter para torná-lo mais transparente para os usuários — apesar de bloquear quem o critica na rede social. Muitos especialistas veem com desconfiança esses planos de Musk.

"Isso é sem dúvida um ponto a observar. Donald Trump (ex-presidente dos EUA) está proibido de voltar ao Twitter. Como ficará esse poder de decisão, e quem vai decidir o que é ou não uma notícia falsa? Os planos de Musk sobre liberdade de expressão vão encontrar muita resistência", diz Jesper Rhode, sócio-fundador da consultoria Tr4nsform.

Rhode cita a recente decisão da União Europeia, que chegou a um acordo para uma legislação que forçará as big techs a combaterem a desinformação. Ele ainda lembra as discussões no Congresso americano para criar uma agência com o objetivo de impedir a disseminação de informações falsas.

"É uma agenda que vai ganhar cada vez mais força e espaço. Algo importante para se observar é quem Musk vai colocar para comandar a empresa, já que ele criticou os atuais executivos", afirma.

A transação também mexeu com o mundo político. Nos EUA, apoiadores de Trump correram para pedir que Musk libere a volta do ex-presidente ao Twitter. Ele foi suspenso em janeiro do ano passado, depois que a rede social avaliou que seus posts estimulavam a violência, como a invasão do Capitólio.

Bolsonaristas apostam em menos restrições

No Brasil, o ministro das Comunicações, Fábio Faria, parabenizou Musk pelo próprio Twitter. Os deputados federais Eduardo Bolsonaro (PL-RJ) e Carla Zambelli (PL-SP) compartilharam o tuíte de Musk sobre liberdade de expressão.

O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), por sua vez, retuitou uma publicação do Partido Republicano dos EUA que defendia a volta de Trump à plataforma.

Por trás disso está o fato de o Twitter ter suspendido políticos e influenciadores ligados ao campo bolsonarista, como o deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ), o blogueiro Allan dos Santos e o caminhoneiro Zé Trovão. 

Paula Chimenti, professora e coordenadora do Centro de Estudos em Estratégia e Inovação do Coppead/UFRJ, observa que Musk percebeu a importância de ter um pé na área de comunicação. Em menor escala, é um movimento semelhante ao do fundador da Amazon, Jeff Bezos, que comprou o jornal The Washington Post. "Ele já entendeu a importância da comunicação e do lado estratégico disso tudo", afirma Paula.

Ela também avalia que a compra do Twitter por um bilionário vai aumentar a pressão por uma discussão global sobre a regulamentação das redes sociais. "O Twitter é uma plataforma presente em todo o mundo, mas cada país tem sua legislação. Também seja a hora de pensar em uma iniciativa coordenada".

A compra do Twitter por Musk, diz Paula, aumenta a preocupação com a falta de transparência, já que a empresa terá seu capital fechado, o que dispensa a divulgação de informações financeiras.

"Por isso, é importante o papel da regulamentação. O ponto central é como controlar o papel dessas empresas mundo afora", diz. "É preciso permitir a criação de um ecossistema saudável, com concorrência".

"Patinho feio" das redes

A plataforma está atrás de rivais como Facebook, Instagram e TikTok, mas tem uma base fiel de usuários. Ainda assim é chamada de "patinho feio das redes" por analistas de mercado.

De acordo com a consultoria ComScore, o Brasil tem o quarto maior número de usuários no mundo, atrás de Índia, EUA e Indonésia. A ComScore contabiliza visitantes únicos, enquanto o Twitter, em seu balanço, registra o número de usuários ativos diários monetizáveis (que são expostos a publicidade).

Do ponto de vista do mercado financeiro, Dan Ives, da Wedbush Securities, avalia que os acionistas do Twitter devem aprovar a operação, que depende ainda da aprovação dos órgãos reguladores dos EUA. "O Conselho de Administração do Twitter estava contra a parede desde que Musk detalhou sua proposta, na semana passada. O negócio deve ser fechado ainda este ano".

O longo fio da negociação

A transação teve lances dignos de um fio (ou thread) no Twitter. Primeiro Musk revelou ter comprado uma fatia da empresa. Logo depois, foi convidado a fazer parte do Conselho de Administração — o que limitaria sua participação acionária a 14%.

Ele recusou, e então o Twitter anunciou, no último dia 15, que adotaria um mecanismo conhecido como "pílula de veneno" . Esta prevê que, em caso de compra de 15% ou mais das ações da empresa no mercado, sem aprovação prévia do conselho, a parte que assumisse o controle da empresa pagaria um valor extra aos demais acionistas.

Até que, no último fim de semana, Musk anunciou ter conseguido financiamento para viabilizar sua oferta, depois de receber três "nãos". No domingo, o bilionário se reuniu com executivos da empresa, e na segunda-feira a compra foi anunciada.

O homem mais rico do mundo assegurou um financiamento de US$ 25,5 bilhões e entrará com US$ 21 bilhões em ações para custear a operação, segundo comunicado.

O acordo ainda prevê que Musk terá de pagar uma indenização se desistir ou se a operação não seguir em frente, disseram à Bloomberg fontes a par do assunto. Além disso, o Twitter não poderá solicitar ofertas de outros potenciais compradores.

O CEO do Twitter, Parag Agrawal, enviou um e-mail aos funcionários assim que a operação foi anunciada, convocando-os para uma reunião. "Sei que essa é uma mudança significativa", afirmou.

Segundo o New York Times, quando Musk tornou pública sua oferta, muitos empregados do Twitter enviaram perguntas a Agrawal e até a Musk, pela própria rede social. Mas eles ficaram sabendo da notícia mesmo pelo próprio Twitter, o que lhes deixou um gosto amargo, para além das preocupações em torno das mudanças que Musk trará à companhia.

*Com agências internacionais.

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