Frente Parlamentar Católica Apostólica Romana (FPC) realiza reunião para instalação e  eleição da mesa diretora. Na foto: Representante de Taiwan no Brasil, Benito Liao; Senador  Esperidião Amin (PP-SC); Vice-presidente da FPC, senador Flávio Arns (PSB-PR); Presidente  da FPC, Senador Astronauta Marcos Pontes (PL-SP) e Cardeal-Arcebispo de Brasília, Dom  Paulo Cezar Costa
Foto: Geraldo Magela/Agência Senado
Frente Parlamentar Católica Apostólica Romana (FPC) realiza reunião para instalação e eleição da mesa diretora. Na foto: Representante de Taiwan no Brasil, Benito Liao; Senador Esperidião Amin (PP-SC); Vice-presidente da FPC, senador Flávio Arns (PSB-PR); Presidente da FPC, Senador Astronauta Marcos Pontes (PL-SP) e Cardeal-Arcebispo de Brasília, Dom Paulo Cezar Costa


Ciência  e fé são conhecimentos que não são opostos, mas se complementam. Enquanto a ciência se empenha em desvendar os mistérios do universo por meio da razão, a fé compreende o propósito e o significado por trás da existência. A ciência nos ajuda a entender o  mundo, a fé dá sentido a ele e nos guia para o caminho correto, o caminho do bem. Se estudarmos melhor esse assunto, podemos entender que ambas compartilham uma busca comum: a verdade.

Como piloto de caça e Astronauta, profissões que têm riscos, sempre pedi a proteção de Nossa Senhora. Sou devoto a ela e levei comigo um broche com sua imagem para o espaço. Com toda a tecnologia, estudo, inovação e conhecimento que adquiri e aprendi ao longo do tempo de preparo para ser Astronauta, não fiquei em dúvida, um minuto sequer, se deveria pedir o auxílio e a companhia de Nossa Senhora para estar comigo nesses momentos de desafios. Sou um Senador, um profissional intimamente ligado à ciência, mas a fé faz parte de minha vida, inspirado por minha mãe!

Nesse contexto de coexistência e complementaridade, lancei, na última quarta-feira (04/09), a Frente Parlamentar Católica Apostólica Romana no Senado. Esta iniciativa busca promover valores cristãos no parlamento e reforça que os princípios da fé podem, e devem, caminhar juntos na construção de uma sociedade mais justa e igualitária. As discussões políticas e sociais, inclusive em temas relacionados à ciência e tecnologia, podem ser influenciadas por valores éticos e morais promovidos pela Frente Parlamentar Católica. Pretendemos iniciar um trabalho importante na promoção de políticas públicas baseadas nos valores defendidos pela religião católica. Espero que a Frente seja um marco para o fortalecimento desses princípios.


Se a gente acha que a  pandemia mudou a nossa forma de ver o mundo, daqui a alguns anos, com a inteligência artificial, teremos mudanças muito mais significativas. E em momentos de avanços tecnológicos, quando a modernidade influencia a vida e coloca em prova o nosso conhecimento, as fronteiras da ética se tornam um desafio. A Frente pode desempenhar um importante papel ao oferecer uma base moral sólida para a formulação de políticas públicas para irmos adiante com a inteligência artificial, biotecnologia e as novidades da medicina. Por meio do diálogo entre parlamentares, cientistas e líderes religiosos, é possível assegurar que os avanços científicos estejam sempre atrelados à promoção da dignidade humana e ao respeito pelos valores fundamentais da vida.

Existe uma série de questões delicadas como o uso de embriões em pesquisas científicas, os limites éticos da manipulação genética e o impacto social da automação que merecem um intenso debate onde a fé cristã pode contribuir com uma visão humanista, promovendo o desenvolvimento tecnológico com responsabilidade. A Frente Parlamentar Católica pode garantir que o progresso ocorra com harmonia e equilíbrio, levando em consideração o interesse, o bem comum e os valores que protegem a integridade da vida e da criação.

Assim como levei a minha fé para me acompanhar no espaço, é possível trazer esses valores cristãos para o campo das políticas públicas. A Frente poderá e deverá atuar para integrar a sociedade, contra a desigualdade social, pensando na inclusão digital, ao acesso à educação tecnológica e à valorização da ética profissional em áreas científicas.

A Frente visa dialogar com diversas religiões, promovendo a colaboração entre elas. Esse tipo de debate é essencial para a criação de políticas públicas mais eficazes, que reflitam as verdadeiras necessidades da sociedade, respeitando sempre a pluralidade religiosa e os valores que nos conectam como nação. A iniciativa busca inserir os princípios cristãos nas discussões legislativas que afetam diretamente a vida dos brasileiros, com o propósito de desenvolver leis que contribuam para uma sociedade mais justa e digna.

O Brasil enfrenta desafios que vão muito além da política e só poderão ser enfrentados com princípios morais sólidos. Temas como saúde, meio ambiente, privacidade de dados, inteligência artificial e outros precisam ser debatidos com princípios que encontramos na religião. A não observação desses princípios pode resultar em desigualdade, abusos e danos irreversíveis. Um norte moral é necessário para garantir que o desenvolvimento e a inovação ocorram de maneira responsável, respeitando a dignidade humana, os direitos fundamentais e o bem-estar coletivo. Assim atua com equilíbrio entre a transformação que a ciência busca e as necessidades sociais do ser humano.

Essa pode ser uma oportunidade para integrar princípios cristãos dentro das discussões do parlamento, a fim de que a legislação brasileira carregue os valores que são importantes ao povo brasileiro. Defender os princípios éticos e morais da Igreja Católica significa garantir que os valores fundamentais de milhões de brasileiros sejam considerados nas discussões legislativas, tendo em vista que o Brasil é o país com o maior número de católicos do mundo.  Dados do Anuário Pontifício e pelo Annuarium Statisticum Ecclesiae, mostram que quase a metade dos católicos do mundo residem nas Américas (48,6%), com a grande maioria pertence à América do Sul (57,5%), sendo 27,5% somente no Brasil, cerca de 115 milhões de brasileiros católicos. Isso reflete a influência da Igreja Católica na formação da cultura da sociedade brasileira. No mundo, há aproximadamente 1,3 bilhão de fiéis católicos, conforme divulgou a Agência Fides  “Anuário Estatístico da Igreja”.

Outra finalidade da iniciativa é colaborar com a assistência social e a educação, muitas das quais já são tradicionalmente realizadas por instituições católicas no País, tornando-se uma aliada importante na elaboração de políticas públicas que visem o bem-estar social e o desenvolvimento humano integral. A pesquisa  “Ação Social da Igreja no Brasil”, encomendada pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) à Fundação Grupo Esquel Brasil (FGEB) de 2014, aponta que as obras sociais da Igreja chegam a quase 500 milhões de atendimentos a cerca de 40 milhões de pessoas ou 11,8 milhões de famílias. Desses quase 500 milhões de atendimentos, 393,5 milhões correspondem às Obras Sociais. Este número corresponde a quase 30,3 milhões de pessoas atendidas, número equivalente a 88% do número total de pobres do país.

A criação da Frente Parlamentar Católica reflete a minha convicção na importância dos valores cristãos na vida pública e na formulação de políticas que beneficiem a sociedade de forma geral. É um marco na integração dos valores cristãos ao processo legislativo brasileiro. Em um país onde a maioria da população se identifica como católica, essa iniciativa visa assegurar direitos fundamentais e princípios éticos para a construção de uma sociedade mais justa e solidária. Em um mundo cada vez mais interligado pela tecnologia, esses princípios são fundamentais para assegurar que o progresso atenda às necessidades de toda a população, sem excluir os mais vulneráveis.

** Marcos Pontes é mestre em Engenharia de Sistemas e o primeiro astronauta profissional a representar oficialmente um país do hemisfério sul no espaço. Foi ministro das Comunicações (2019-2020) e da Ciência, Tecnologia e Inovações (2020-2022). Atualmente é senador da República por São Paulo, cargo para o qual foi eleito com mais de 10,7 milhões de votos. Entusiasta do avanço das tecnologias de inteligência artificial, defende o desenvolvimento econômico e social do país por meio do conhecimento, da educação, da ciência, da tecnologia, da inovação e do empreendedorismo.

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