Era julho de 2021 quando Mark Zuckerberg anunciou o plano de direcionar o futuro do Facebook para o metaverso. Sem demora, o assunto caiu no radar de numerosas empresas. Estamos em 2023 e, até agora, esse promissor ambiente virtual não vingou. Apesar disso, ainda há organizações apostando nesse hype. Faz sentido?
A internet estimula um senso de urgência ou de oportunidade. Ou de ambos. Se a sua companhia não aderir a uma tendência, pode perder clientes ou assistir ao avanço dos concorrentes. Essa é uma das razões pelas quais empresas de todos os portes têm perfis nas redes sociais.
Não é questão de modismo. Aderir às redes sociais é ir onde o cliente está. Facebook, Instagram, TikTok e Twitter são canais de contato com o consumidor, funcionam para estratégias de marketing e servem até como canais de vendas.
Então, Zuckerberg anunciou a sua aposta no metaverso. O Facebook, enquanto empresa, mudou de nome para Meta como forma de refletir os novos rumos. O mercado reagiu alimentando a crença de que o futuro da internet está aí.
Em pouco tempo, organizações dos mais diferentes setores abraçaram a ideia, mesmo com o conceito não sendo bem compreendido. O importante é não ficar de fora. Esse movimento até estimulou a criação de serviços e produtos voltados especificamente para o metaverso.
Só há um problema: falta gente. Estruturas virtuais e ferramentas que viabilizam a criação de espaços que podem ser considerados metaversos existem. Mas onde estão os usuários?
Tem tecnologia, falta demanda
O metaverso é, essencialmente, um ambiente imersivo para usuários interagirem com outras pessoas e organizações. Mas não existe só um metaverso. Até há plataformas que tentam oferecer um espaço virtual abrangente, a exemplo do Decentraland. Só que, de modo geral, há muita fragmentação nesse mercado.
Soma-se a isso o apontado problema da baixa demanda. O conceito ainda é vago para a maioria das pessoas, o que contribui para o baixo interesse pelo assunto.
Com muitas promessas e pouco resultado, as expectativas sobre o metaverso começaram a esfriar, principalmente no segundo semestre de 2022. Até os funcionários da Meta expressaram descontentamento com os rumos da companhia.
E neste começo de 2023?
Apesar de o assunto não ser tão chamativo quanto era há um ano, o conceito ainda atrai empresas. Para citar um exemplo recente no Brasil, o Banco24Horas anunciou, nesta semana, ter chegado ao metaverso por meio do servidor MetaSoul.
Outro: na semana passada, o Grupo Carrefour Brasil anunciou uma ação com jogos no metaverso, por meio da plataforma Sandbox — a companhia comprou um "terreno" por lá em fevereiro de 2022.
Ao mesmo tempo, há empresas que tentam mostrar como o metaverso ainda pode ser promissor. É o caso da Accenture. Na CES 2023, a companhia apontou que o crescente interesse de consumidores e empresas pelo metaverso dará espaço para uma oportunidade comercial avaliada em US$ 1 trilhão até o fim de 2025.
Já a Allianz Partners Brasil, do setor de seguros, destacou na semana passada que o metaverso pode ser útil para a assistência 24 horas ao segurado. De acordo com Renato Maglioni, diretor de negócios e TI da companhia, isso poderia ser feito por meio do suporte remoto ao cliente e com auxílio de realidade aumentada.
Mas nem tudo é só otimismo. Elói Assis, diretor-executivo de produtos de varejo da TOTVS, ressalta que, no NRF 2023 (evento para o setor de varejo), apenas uma das 219 palestras tinha "metaverso" no título. Na edição de 2022, a cada duas palestras, uma falava sobre o assunto, relata o executivo.
"O tema metaverso de fato involuiu rapidamente em apenas um ano. Há pouco tempo parecia que esse novo recurso estava prestes a explodir e virar um mundo de oportunidades a serem exploradas pelo varejo, mas hoje vemos por quem ele realmente é: um bebê apenas engatinhando", analisa.
Mas o próprio executivo alerta que essa "não é uma declaração de morte ao metaverso".
O metaverso é um fracasso?
Não necessariamente. O que fracassou, pelo menos até o momento, é a ideia de que todo mundo abraçaria a proposta de ter uma representação virtual, de mergulhar em uma espécie de universo paralelo virtual.
Não é tão simples. Criar esse ambiente e torná-lo atraente requer altíssimos investimentos. Isso também demanda tempo. Não só para o desenvolvimento do ambiente, mas para o entendimento sobre como a ideia pode prosperar.
Enquanto isso, muitas empresas puxam o freio. O momento não é favorável para o setor de tecnologia. A atual onda de demissões atinge até as big techs, a exemplo da Microsoft e do Google. Isso tem feito essas companhias pausarem projetos de realidade aumentada ou virtual, conceitos importantes para o metaverso.
O próprio Facebook anunciou um plano de demissão em massa. Os cortes afetaram a Reality Labs. Essa é a divisão de realidade virtual da companhia. Ela tem grande envolvimento com a sua proposta de metaverso, mas só vem dando prejuízo.
De novo, a ideia não é exatamente um fracasso. A Nvidia Omniverse, por exemplo, é um ecossistema de multiverso focado em simulações realistas e design 3D. A plataforma é interessante para o desenvolvimento de produtos e serviços.
Aqui, o conceito ganha aplicações visivelmente mais práticas, até por oferecer um arsenal tecnológico de ponta. O exemplo da Nvidia mostra que a ideia não é ruim. Mas ela precisa de propósitos bem definidos para ir adiante.