O Spotify anunciou nesta segunda-feira (23) a demissão de cerca de 600 funcionários, o que representa 6% da empresa. A decisão da companhia vem após uma série de outras gigantes de tecnologia anunciarem demissões em massa nos últimos meses. Desde novembro, mais de 55 mil funcionários de diversas empresas perderam seus cargos.
Só na última semana, duas gigantes anunciaram demissões em massa: Google e Microsoft . Enquanto a primeira decidiu cortar 12 mil funcionários (cerca de 6%), a segunda desligou 10 mil (cerca de 5%). A reportagem entrou em contato com Spotify, Google e Microsoft, mas as empresas não abriram os números de demissões de funcionários no Brasil.
As companhias, porém, não são as únicas a cortarem cargos de forma massiva. No início de janeiro, a Amazon anunciou que demitiria 18 mil funcionários, cerca de 1,2% do total. Em novembro, o Twitter mandou metade de todos os seus funcionários embora (desde então, o número já subiu para 70%, alcançando cerca de 5,2 mil demissões), enquanto a Meta, dona do Facebook, WhatsApp e Instagram, anunciou a saída de 11 mil funcionários , ou 13% dos cargos. Das gigantes de tecnologia, a Apple foi a única que, por enquanto, não realizou demissões massivas.
Economia desafia gigantes de tecnologia
Além de serem do ramo da tecnologia, as empresas que realizaram demissões em massa têm outro aspecto em comum: com exceção do Twitter, que realizou o processo de desligamento dos funcionários de forma pouco transparente , todas as companhias citaram os mesmos motivos para a decisão.
De modo geral, as empresas disseram que contrataram muitos funcionários durante a pandemia de Covid-19, quando os serviços de tecnologia se tornaram ainda mais essenciais, mas não veem o ritmo acelerado se mantendo atualmente, o que acarreta em demissões massivas.
Daniel Ek, CEO do Spotify, citou um "ambiente econômico desafiador", enquanto Andy Jassy, CEO da Amazon, falou em uma "economia incerta" para descrever o atual momento global. "Estamos vendo organizações em todos os setores e geografias agindo com cautela, já que algumas partes do mundo estão em recessão e outras estão prevendo uma", afirmou Satya Nadella, CEO da Microsoft.
Sundar Pichai, CEO do Google, disse que a empresa teve um "crescimento dramático" nos últimos dois anos, o que levou a novas contratações. Agora, porém, ele cita um "ciclo econômico difícil". O mesmo argumento foi usado por Mark Zuckerberg, CEO da Meta, que disse que esperava que o crescimento registrado durante os últimos anos fosse mantido. "Infelizmente, isso não aconteceu do jeito que eu esperava", afirmou.
O argumento usado pelas gigantes de tecnologia revela uma instabilidade por parte das empresas, o que levanta um alerta para pesquisadores da área do direito digital. "Acredito que é preciso desenvolver um modelo sustentável de funcionamento dessas plataformas para que elas tenham um resultado positivo na vida do usuário", opina Ana Bárbara Gomes Pereira, coordenadora de políticas públicas do Instituto de Referência em Internet e Sociedade (IRIS).
Demissões impactam consumidores
A pesquisadora argumenta que, como os serviços de tecnologia ofertados pelas gigantes do setor se tornaram essenciais nas vidas dos usuários de todo o mundo, demissões em massa como as vistas nos últimos meses inevitavelmente vão impactar a vida de todos.
Nos últimos anos, a sociedade civil tem levantado pautas importantes para o setor de tecnologia, cobrando melhorias em moderação de conteúdo e ética digital, por exemplo. A luta, que impulsiona novas legislações mundo afora, também precisa do envolvimento das empresas, e os cortes em funcionários podem brecar esses avanços. "Essa é uma preocupação muito grande para as pessoas engajadas na luta por direitos digitais", afirma Ana Bárbara.
Além de terem argumentos econômicos em comum, as demissões das gigantes de tecnologia têm outra similaridade: em sua maioria, as empresas não revelam quais são as áreas mais afetadas pelos cortes, demonstrando falta de transparência. É possível que setores cruciais para a manutenção e avanço dos direitos digitais tenham sido afetados, a exemplo do Twitter.
No início do mês, a agência Bloomberg News revelou que o Twitter enxugou as equipes responsáveis por moderação de conteúdo e combate a discurso de ódio, assédio e desinformação, o que afeta diretamente o produto final entregue aos usuários.
"A questão de moderação de conteúdo é uma pauta muito urgente. Ao tomar uma medida de corte de trabalhadores, isso traz uma preocupação de que a questão não seja endereçada da forma como ela precisa ser e com a urgência e a seriedade que precisa ser", afirma Ana Bárbara. "Essa é uma sinalização ruim em um contexto onde tudo deveria apontar para o contrário, havendo mais esforço, preocupação e diálogo sobre como construir uma política democrática de moderação de conteúdo eficiente para a sociedade", completa.