Dezenas de milhares de páginas. É isso o que cada rede social tem de dados sobre cada um de seus usuários. E esse "dossiê" pode ser baixado por qualquer um que queira entender um pouco melhor quais informações as gigantes de tecnologia sabem sobre a sua vida.
Experimentei fazer o download dos meus dados em três das principais plataformas de mídia social no Brasil: Instagram, Twitter e Facebook. Só de publicações que eu curti e reagi ao longo dos últimos 12 anos no Facebook, são mais de seis mil páginas - ou quatro bíblias. Isso sem contar comentários, conversas privadas, buscas, perfis visitados, logins, dispositivos, localização e muito mais. O que as redes sociais sabem sobre nós não é pouco.
Dados gerados com base em comportamento
Grande parte dessas informações são produzidas pelas próprias plataformas com base no nosso comportamento. Por exemplo, se eu curti muitas fotos de maquiagem e passei horas assistindo vídeos sobre isso, o Instagram pode entender que eu gosto de me maquiar. Com isso, ele vai me enviar mais postagens sobre o tema e vão começar a surgir anúncios de bases, cílios postiços e batons, por exemplo. Eu nunca contei para o Instagram que eu gosto de me maquiar, não preenchi um formulário com essa informação. Mas ele sabe disso baseado no comportamento que eu assumo na plataforma.
"É muito interessante a gente conhecer o funcionamento da plataforma a partir dos dados não só que a gente fornece, mas também os dados que eles produzem a partir do nosso comportamento", comenta Jaqueline Trevisan Pigatto, pesquisadora em governança da internet na Associação Data Privacy Brasil. "Essa mistura dos dados que você forneceu e de dados que eles estão observando podem gerar um desdobramento, um anúncio que você não vai saber exatamente de onde veio", comenta.
Por que baixar seus dados pode ser uma boa experiência?
Essa enorme quantidade de informações pessoais que as redes sociais armazenam sobre cada usuário é o que faz cada publicação ou anúncio chegar até o feed, afinal, são esses dados que alimentam os algoritmos. Estar consciente disso é muito importante por diversos aspectos.
O primeiro deles é entender por que você consome determinado tipo de conteúdo. Ao se deparar com o motivo pelo qual o algoritmo te sugere publicações, o usuário consegue olhar de forma mais crítica para seu uso diário das redes sociais. Esse é um passo importante para controlar o tempo de tela e para evitar cair em "bolhas" de conteúdo que podem ser danosas, como as de desinformação ou aquelas que evitam opiniões diferentes.
Outro aspecto importante dessa conscientização é compreender que seus dados são seus. "Você é o titular dos dados, eles não pertencem à plataforma só porque você os forneceu", alerta Jaqueline. A especialista afirma que ao se deparar com a enorme quantidade de informações que as redes sociais têm acesso, é possível que o usuário não queira que esse tipo de dado continue sendo coletado ou compartilhado.
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Como cuidar dos seus dados na internet?
Para isso, existem ferramentas que permitem mais privacidade em todas as principais plataformas digitais. "Tem muita gente que não conhece a parte de configurações. É importante fazer uma rotina de estar sempre voltando nessas configurações de privacidade. Por padrão, as plataformas vão sempre expor ao máximo, compartilhar ao máximo seus dados, e às vezes você nem acaba se tocando", comenta Jaqueline. Além disso, são nessas configurações de privacidade que os usuários podem encontrar explicações mais simplificadas da finalidade da coleta e uso de dados pessoais.
Sol González, pesquisadora de segurança da ESET na América Latina, ainda lembra que é possível que os usuários percebam, com o download das informações, quais delas são públicas. Com isso, dá pra escolher aquilo que você não quer que outras pessoas vejam e excluir. Ela aconselha que informações relacionadas a trabalho e família, assim como dados pessoais como telefone e e-mail sejam configurados para que apenas pessoas de confiança possam ver.
"Infelizmente, quando nossas informações já estão na internet, perdemos o controle total, pois é impossível discernir quem acessou essas informações e não", alerta ela, que aconselha que os usuários estejam atentos antes de publicarem fotos e informações pessoais nas redes sociais.
Jacqueline concorda e aconselha que as pessoas utilizem mais as ferramentas de privacidade disponibilizadas pelas próprias redes sociais, como é o caso dos perfis fechados e de recursos para publicar apenas para "melhores amigos".
Instagram, Twitter e Facebook
Cada rede social tem sua particularidade na coleta, armazenamento e criação de dados dos usuários. Fiz o download das minhas informações no Instagram, no Twitter e no Facebook e analisei tudo o que encontrei.
Publicamos uma série de reportagens, uma sobre cada rede social. Nelas, você encontra ferramentas que pode utilizar para ter mais privacidade na sua vida digital. Confira: