Moderadores de conteúdo do TikTok são expostos a conteúdos de abuso infantil, de acordo com uma reportagem da Forbes. Ex-funcionários da Teleperformance, uma empresa terceirizada da plataforma, afirmaram à revista que eram obrigados a verem vídeos de crianças serem exploradas sexualmente em seus treinamentos.
"Eu tenho uma filha e não acho certo um monte de estranhos assistindo isso. Eu não acho que eles deveriam usar algo assim para treinar", disse um dos ex-funcionários à Forbes.
Os trabalhadores relatam a existência de um documento chamado DRR, sigla em inglês para "leitura obrigatória diária". Nele, estavam vídeos que feriram as diretrizes do TikTok e foram deletados, sendo grande parte deles de crianças sendo abusadas.
Funcionários que deixaram a Teleperformance recentemente, ainda em julho deste ano, relatam que o documento segue circulando entre moderadores de conteúdo e que contém imagens coletadas em vários períodos. Estima-se que centenas de pessoas tanto da Teleperformance quanto do TikTok têm acesso ao documento.
"Eu estava moderando e pensando: Este é o filho de alguém. Esta é a filha de alguém. E esses pais não sabem que temos essa foto, esse vídeo, esse trauma, esse crime salvo", disse outra ex-moderadora à Forbes. "Se os pais soubessem disso, tenho certeza de que queimariam o TikTok".
Os ex-funcionários relatam à Forbes que ficaram traumatizados por serem tão expostos às imagens. Uma delas afirma que ainda luta para se recuperar e que adquiriu comportamentos raivosos e pensamentos relacionados ao suicídio. Outro afirma: "Eu sei o que vimos, e foi muito fodido. Nós não deveríamos ter que ver nada disso".
Crime
Além de causar transtornos para os funcionários, a exposição dos vídeos pode ser configurada como crime nos Estados Unidos, afirmaram especialistas à Forbes.
No país, a regra é retirar o conteúdo do ar e denunciá-lo ao Centro Nacional para Crianças Desaparecidas e Exploradas. Depois disso, é necessário que as empresas minimizem o acesso aos conteúdos e só os mantenham salvos a fim de ajudar a Justiça em suas investigações.
O que o TikTok faz seria considerado crime. Isso porque após excluir o conteúdo da plataforma, ela o mantém circulando entre seus funcionários, ao invés de minimizar seu acesso.
À Forbes, o porta-voz do TikTok, Jamie Favazza, disse que "materiais de treinamento da empresa têm controles de acesso rígidos e não incluem exemplos visuais de abuso infantil". A empresa admitiu, porém, que trabalha com terceirizadas que podem ter seus próprios processos.
Favazza ainda disse que o objetivo do TikTok "é minimizar a exposição dos moderadores de acordo com as melhores práticas do setor".
O presidente global de confiança e segurança da Teleperformance, Akash Pugalia, disse à Forbes que a companhia não usa vídeos com conteúdo explícito de abuso infantil em treinamento.