WhatsApp lança ferramenta de canais
Unsplash/Mourizal Zativa
WhatsApp lança ferramenta de canais

Os  canais do WhatsApp, lançados globalmente nesta quarta-feira (13), podem se tornar uma ferramenta usada para espalhar desinformação e discurso de ódio, assim como acontece no recurso homônimo no Telegram. Apesar disso, algumas regras da plataforma podem fazer com que os grupos sigam sendo o maior perigo do mensageiro.

De acordo com o WhatsApp, os canais chegam para que os usuários possam receber atualizações de celebridades, organizações e times de futebol, por exemplo. O número de seguidores é ilimitado, e a conversa é unilateral, ou seja, as pessoas podem apenas ver os conteúdos, votar em enquetes e reagir às mensagens, mas não responder.

Dentro dos próximos meses uma atualização permitirá que qualquer pessoa crie um canal - e é aí que a ferramenta pode se tornar um risco. "Ao criar esse mecanismo de canais, o WhatsApp está abrindo o leque e possibilitando que um conteúdo desinformativo atinja mais pessoas, e tenha um impacto negativo consideravelmente maior. É, sim, um problema do ponto de vista da desinformação, porque você eventualmente pode ter canais que vão ser usados para essa finalidade", avalia João Victor Archegas, pesquisador no Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio (ITS Rio).

Apesar dos usuários não poderem responder responder às mensagens recebidas em canais, eles podem encaminhá-las a grupos e conversas privadas. Na avaliação de João, esse é um agravante, já que pode estimular a disseminação de conteúdos potencialmente perigosos.

Moderação de conteúdo

Cada mensagem encaminhada de canais contará com um link para o canal correspondente, permitindo que os usuários comecem a seguir aquela lista. No caso da desinformação e de demais conteúdo perigosos, esse recurso pode permitir que mais pessoas entrem em um canal deste tipo; por outro lado, pode inibir a criação de listas com intuito de disseminar fake news ou discurso de ódio, já que os criadores das mensagens seriam facilmente identificados.

"Isso permitirá ao WhatsApp apontar as pessoas responsáveis por eventual discurso de ódio, por exemplo", aponta Paulo Rená, pesquisador do Instituto de Referência em Internet e Sociedade (IRIS).

Além disso, a moderação de conteúdo, até então inexistente no WhatsApp, começará a existir. Atualmente, a plataforma não pode moderar os conteúdos que circulam nela, já que as mensagens são criptografadas de ponta a ponta, ou seja, apenas destinatário e remetente têm acesso a elas.

"A criptografia é um mecanismo muito importante para garantir a privacidade, mas em contrapartida você não tem como fazer um controle de conteúdo como é feito, por exemplo, no Facebook ou no Twitter", afirma João.

Até o momento, a única forma usada pelo WhatsApp para evitar a disseminação de conteúdo falso ou violento, levando em consideração essa arquitetura digital específica, é limitando os compartilhamentos de mensagens. João explica que isso é importante para criar atrito nos encaminhamentos, reduzindo a disseminação de conteúdos potencialmente perigosos.

Atualmente, mensagens podem ser encaminhadas para até cinco conversas por vez, e mensagens encaminhadas com frequência podem ser distribuídas a apenas uma conversa por vez. A reportagem do iG entrou em contato com o WhatsApp, que confirmou que os canais contarão com esses mesmos limites.

Além dessa medida, os canais permitem que o WhatsApp vá além. Isso porque, por serem públicos, os canais não são criptografados, permitindo que a plataforma tenha acesso aos conteúdos neles publicados.

Diante disso, a plataforma criou diretrizes que definem conteúdos que são proibidos, o que inclui "atividades ilegais, atividades que causem danos graves às pessoas, atividades inadequadas para um público mais jovem do que a base de usuários do WhatsApp e atividades fraudulentas". A empresa afirma que vai usar "ferramentas automáticas, análise manual e denúncias de usuários para detectar abuso".

Se as regras forem violadas, as punições vão desde uma notificação aos administradores dos canais até a suspensão do canal e o banimento dos administradores do WhatsApp.

Diante disso, Paulo aponta que os grupos - que, com a chegada das comunidades , passaram a reunir até cinco mil pessoas - podem continuar sendo mais atraentes para disseminadores de desinformação e discurso de ódio, justamente por serem mais privados e não contarem com moderação.

"Pode ser que, com o novo padrão de comunicações unidirecionais e abertas, os canais sejam na verdade menos atraentes do que os grupos tradicionais", analisa.

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