Até então, só é possível enviar convites do
Clubhouse
para amigos caso seja feito o upload da lista de contatos no app. Mas, segundo o jornalista Will Oremus do OneZero
, site independente hospedado no Medium, isso pode ser mais invasivo do que parece.
De acordo com a experiência do próprio Oremus, o app vai além da lista de contatos dos usuários. O objetivo dele, como quase todas as redes sociais , é usar a lista para enviar convites para mais usuários participarem da rede, mas também para mostrar quem da agenda já está com perfil ativo. Se fosse só até aí, tudo bem. O problema é que o Clubhouse também mostra os “amigos dos amigos”.
“Eu entrei em uma sala de boas-vindas de uma pessoa com quem eu não falava há anos, meio que sem querer, e mesmo que ela não estivesse [na sala], eu acabei conhecendo, virtualmente, alguns dos seus amigos aleatórios”, disse Oremus. “Isso pode até ser legal, mas você também pode imaginar cenários onde ser jogado em uma sala privativa com pessoas que você não conhece pode ser menos do que ‘prazeroso'”.
Esse é um formato no qual o Clubhouse lista amigos em potencial para cada usuário. O outro se revela quando você clica em “Convidar”. O app cria uma lista do que parecem ser todos os contatos da agenda do usuário que não estejam atrelados a um perfil ativo na rede. Mas essa mesma lista mostra quantos amigos dessas pessoas ausentes já aceitaram convites e estão dentro do Clubhouse, e ainda cria um ranking de níveis de conexão deles com você, do mais próximo ao mais distante.
A grosso modo, pense no seguinte: “João” fez o upload da agenda no app e lá apareceu o nome de “José”, que não está no app. Só que “José” conhece “Pedro”, que está no app. Se por um acaso “Pedro” também fizer o upload de sua agenda e lá constar o mesmo “José”, então o Clubhouse já sabe que “Pedro” é conectado a “José” e, indiretamente, a “João”, mesmo que “Pedro” apenas tenha a conta e nunca tenha usado o app.
Lista visível “para todos”
Relatos coletados por Oremus de usuários do Clubhouse no Twitter mostram que alguns dos números puxados pela rede social não são necessariamente só de pessoas físicas, mas de serviços como de entregas de comida, médicos ou fornecedores de maconha, em países onde isso é legalizado, por exemplo.
“Quando você se junta ao Clubhouse, ele te diz quantas pessoas dentro do app conhece, então agora eu sei quantas pessoas neste app têm o mesmo traficante, terapeuta, advogado e empregada doméstica que eu”, disse um internauta.
“Estou tentando entender como faço para convidar pessoas ao Clubhouse e ele está me mostrando minha agenda, me contando quantos amigos aquela pessoa tem dentro do app e, aparentemente, tem um serviço de entrega de maconha com 141 amigos aqui”, escreveu outro.
“Dois dos nomes no topo da minha de convidados não eram pessoas, mas restaurantes – um par de lanchonetes do sul do Harlem [Nova York], uma que, inclusive, já fechou há dois anos”, disse Oremus em seu texto. “O Clubhouse também pensou que eu gostaria de convidar o meu psiquiatra que me receitou minha medicação contra TDAH [transtorno do déficit de atenção com hiperatividade], o qual, agora eu sei, tem 62 amigos no app. Felizmente, ele não me mostra quem são essas 62 pessoas – mas o Clubhouse deve saber e ter esse informação em algum lugar de sua base de dados”.
Oremus procurou o Clubhouse para comentar o caso, mas não recebeu resposta. E, considerando a falta de conhecimento público em relação às políticas de uso do app – já que ele ainda é secretivo a ponto de exigir um convite para que você ingresse à sua rede –, cenários perigosos podem ser especulados com essa prática.
A percepção que fica é a de que o Clubhouse , embora utilize uma prática adotada por outras redes sociais para encontrar amigos, deixa os contatos – além dos contatos dos contatos – mais visíveis do que a maioria. E algumas pessoas podem não apreciar isso.