Com o Dia das Crianças
se aproximando, muitos pequenos começam a pedir para os pais o primeiro celular
, tablet
ou notebook
. Mas quando o assunto são os dispositivos eletrônicos com acesso à internet, os pais podem se sentir inseguros. Um estudo recente da Kaspersky mostrou que mais de 70% das crianças brasileiras tem o próprio celular antes dos 10 anos
. Mas, afinal, qual a idade certa para o primeiro smartphone?
De acordo com os especialistas, a resposta é: não existe idade certa para a criança
ganhar um dispositivo eletrônico próprio. Varia de acordo com cada família.
Os pais, porém, podem ter alguns aspectos em mente para tomar essa decisão. Nathalia Pontes, coordenadora de pesquisa e desenvolvimento educacional na PlayKids, plataforma de conteúdos educativos infantis, diz que os pais precisam se fazer algumas questões antes de dar o presente.
Celular para que?
"Para que os pais querem que a criança tenha o celular? Para que a criança quer o celular? Esse tipo de coisa tem que ser avaliada, tem que ser perguntada, para o pai saber se está na hora ou não", aconselha.
Nathalia explica que se a família é muito conectada, é normal que as crianças comecem a pedir por um dispositivo eletrônico mais cedo. Se o uso dentro de casa for mais regrado, porém, o pedido pode vir mais tarde. Nesse segundo caso, esperar o tempo da criança e dos pais é a melhor opção.
"Os pais devem sempre tentar reproduzir alguma coisa semelhante com a que eles vivem. Então, não devem ceder muito a pressões. Eu falo muito com pais e as vezes eles falam: mas todos os colegas do meu filho ja têm rede social, todos ja têm o aplicativo, o telefone. Se eu pudesse dar um conselho seria esse: faz o que você prega como familia, o que é confortavel para você, siga sua forma de criação, porque fica muito mais facil de conduzir o processo como um todo", orienta.
Não é só dar o celular
Esse processo citado pela especialista retrata algo muito importante de ser analisado antes de dar um smartphone para o filho. Não basta fornecer o aparelho, é preciso passar, junto com a criança, por um processo de educação digital.
Depois de dar o celular, notebook ou tablet para o filho, os pais terão que ajudá-lo nessa jornada na internet . Nathalia diz que é importante mostrar os riscos que a rede oferece, alertando os pequenos sobre quais situações precisam ser reportadas aos pais.
"É parecido com os conselhos que a gente dá em uma relação materna ou paterna: não fala com estranhos, olha para os dois lados antes de atravessar a rua. Então, é dar essas coordenadas para a criança. Tem que falar sobre compartilhamento, bullying, respeito, se a criança vai compartilhar foto usando localização, usando uniforme, tudo isso a criança tem que saber de antemão para ela, de fato, fazer um bom uso deste aparelho", afirma.
Esse tipo de ação vai permitir que as crianças não sejam vítimas online . Os riscos vão desde bullying entre as próprias crianças até conversas com adultos desconhecidos, o que pode levar a casos de pedofilia ou desafios relacionados, inclusive, ao suicídio - como aconteceu com o recente caso do Homem Pateta .
Você viu?
Além disso, Nathalia aconselha que os pais orientem os filhos sobre os riscos de compartilhar suas imagens, para que eles mesmos não se causem mal sem perceber - essa regra vale também para adolescentes. "Uma dica que a gente dá é perguntar para a criança se ela mostraria essa foto para o pai dela, professor, colega, tio, avô. Porque isso faz um exercício da criança entender que, uma vez que ela compartilha, aquilo é de todo mundo, é de qualquer um", comenta.
Como instruir as crianças digitalmente?
Decidir dar um celular para uma criança significa, também, decidir que os pais se sentem preparados para guiá-la nesse universo digital. As conversas, o limite de tempo de tela e o controle parental devem estar presentes .
O problema é que muitas famílias sequer sabem tomar os devidos cuidados na internet , o que impacta diretamente em uma má instrução para crianças e adolescentes. "Eu diria que, hoje em dia, a criança talvez saiba mais desse mundo [digital] do que o pai. Então, o pai vai deixar alguma coisa na mão da criança que ele mesmo não sabe controlar", afirma Roberto Rebouças, gerente-executivo da empresa de cibersegurança Kaspersky no Brasil.
Ele conta que, por mais que os pais conheçam sobre a internet , eles dificilmente saberão sobre o aplicativo ou rede social do momento entre as crianças. Por isso, é preciso se atentar. "O grande 'x da questão' é que você está fornecendo para a criança um acesso ilimitado a um mundo e você, como pai, vai desconhecer completamente o que ela está fazendo", alerta Roberto.
O especialista acredita que os assuntos de segurança digital são, atualmente, primordiais para qualquer pessoa, e deveriam ser mais amplamente debatidos, sobretudo nos contextos escolares.
"Todo mundo precisa de segurança digital. Não existem exceções. Não é que você talvez seja exposta, mas é que você vai estar exposta. Eu duvido que, nas últimas duas semanas, você não tenha recebido uma mensagem no seu telefone falando que você estava com problema no seu banco e pedindo para clicar para resolver. A mesma coisa acontece com o telefone que fica na mão da criança, só que ela é muito mais ingênua, ela talvez clique lá por algum motivo, e os problemas podem ser muito grandes ", exemplifica o executivo.
Por isso, o primeiro passo é que os próprios pais entendam os perigos que as redes oferecem. Depois disso, é hora de ensinar as crianças sobre a melhor forma de se portar no universo virtual, ajudando-as a não se tornarem vítimas.
Os aplicativos de controle parental têm papel importante nesse sentido, auxiliando pais a vistoriar tempo de tela e quais aplicativos os filhos utilizam. Mas, para além deles, alerta Nathalia, é essencial uma conversa franca e contínua.
Dicas para os pais guiarem seus filhos na internet
Alguns documentos podem ajudar os pais a se sentirem prontos para dar o primeiro dispositivo eletrônico para seus filhos. A própria Kaspersky têm um livro infantil, online e gratuito chamado "Kasper, Sky e o Urso Verde", que tem o objetivo de instruir crianças entre 6 e 9 anos sobre o universo digital.
Outra dica é o projeto Seja Incrível na Internet , do Google . Além de dicas práticas para o bom uso da internet por crianças, a plataforma ainda traz um jogo, o Interland , que ensina os pequenos a lidarem com os possíveis riscos encontrados na web. A PlayKids também possui um manual que ajuda pais no cuidado de crianças pequenas na internet.